No próximo dia 7 de julho, último dia das Festas de São Pedro e inserida no cartaz das mesmas, vai realizar-se uma Corrida de Touros, numa praça amovível montada junto ao Picadeiro, no recinto das Festas. Agendado para as 18 horas, o espetáculo será de homenagem aos bombeiros de Porto de Mós e o cartaz revela nomes como Marco José, Sónia Matias, João Moura Caetano e Paulo Jorge Santos, todos cavaleiros, estando ainda anunciados três grupos de forcados: Forcados Amadores do Ribatejo, Tertúlia Tauromáquica do Montijo e Aposento Barrete Verde de Alcochete. Os touros são da ganadaria de Paulo Caetano. Os bilhetes podem ser adquiridos nos Bombeiros de Porto de Mós e no secretariado das Festas. Este é um evento com tradição no concelho, no entanto há vários anos que não se realizava.
A presidente da entidade organizadora das Festas, o Fundo Social dos Funcionários do Município de Porto de Mós (FSFMPM), Ana Matos, explicou a O Portomosense que «houve um empresário das lides tauromáquicas» que entrou em contacto com a Câmara Municipal e com o FSFMPM e que «mostrou vontade de voltar a organizar uma corrida de touros em Porto de Mós». «Não nos pareceu de todo descabido sendo que a organização é exclusiva do empresário», referiu Ana Matos, considerando que «há muita tradição e muita afición no concelho».
O vice-presidente e vereador da Cultura da Câmara Municipal, Eduardo Amaral, explicou isso mesmo: «Porto de Mós sempre teve uma grande tradição com a festa de touros, com as garraiadas, com a passagem dos touros, e não é por acaso que ainda temos algumas localidades que têm o seu nome devido a esta dinâmica», como é o caso de Tourões (freguesia de Porto de Mós), que tem este nome porque «era o local onde as pessoas se colocavam para ver as manadas que vinham de Santarém para as praças de Abiul ou da Nazaré». O autarca acrescenta que algumas instituições «conseguiram estruturar-se e garantir financeiramente a sua construção graças às touradas que se faziam no concelho». Além disso, Porto de Mós «tem pessoas que estiveram ligadas à festa, como cavaleiros, toureiros, até como ganadeiros».
A contestação
Ainda o evento não estava confirmado pela organização das Festas e já na internet surgia uma petição que pedia «à Câmara Municipal de Porto de Mós e à entidade que organiza as Festas de São Pedro» que não o incluísse no programa. Afirmando que a tourada se trata de «um espetáculo bárbaro, cruel e degradante, em tudo contrário aos valores da civilização e do progresso», pedem que «Porto de Mós caminhe no sentido da civilização» e «não faça parte do mapa da barbárie».
Paulo Amado é um dos rostos da contestação no concelho e diz-se contra a tourada por ser um espetáculo «que não faz sentido nos dias de hoje» e que «tem todos os contornos de um espetáculo medieval, cruel, desumano e degradante para quem o pratica e para quem a ele assiste e bate palmas», acrescentando que «aquelas pessoas a quem chamam cavaleiros são, na prática, torturadores profissionais». Não sendo o primeiro signatário da petição, que conta já com mais de mil assinaturas, considera ter tido «alguma influência na sua criação» e «sobretudo na divulgação».
Além de estar contra por convicção pessoal, vê ainda algumas contradições: «Que sentido tem o país criar leis que punem, e muito bem, que uma pessoa agrida um cão ou um pássaro e depois autorize e subsidie um espetáculo que é todo ele feito de tortura e de massacre de vários touros e vários cavalos que estão ali a contragosto, obrigados, massacrados, antes, durante e depois do espetáculo, para gáudio de umas dezenas ou centenas [de pessoas]?», questiona. E aponta ainda uma «contradição maior» a este evento em particular, o facto de no cartaz estar referenciado que este é um espetáculo do Grupo A e, por isso «não aconselhável a menores de 12 anos» e «no mesmo cartaz haver a indicação de que os bilhetes são grátis para crianças até aos 6 anos». Paulo Amado diz estar convicto de que a tourada «é um espetáculo condenado a curto ou médio prazo, porque a mentalidade das pessoas está a mudar» e que, «se por hipótese, o Estado deixasse de subsidiar este espetáculo da maneira que o faz, se as autarquias deixassem de o apoiar da maneira que apoiam, vai acabar por cair por si, porque não tem sustentabilidade». Para o dia da tourada, não há nenhum protesto programado, sendo este feito apenas nas redes sociais, no entanto Paulo Amado afirma que o evento, «pode trazer mais gente às Festas, mas não as enobrece».
Questionada sobre se tem receio que a tourada prejudique as Festas, Ana Matos diz que não, «até pelo contrário», considerando que pode ser «uma mais-valia» porque as corridas de touros que já se fizeram em Porto de Mós «correram sempre muito bem e há sempre público para este tipo de espetáculo». Quanto à contestação que se tem feito sentir, diz apenas que «há que saber respeitar quem gosta e quem não gosta», salientando que «a lei está feita» e contempla este tipo de espetáculo. Opinião corroborada por Eduardo Amaral, que acrescenta que «não é por decreto que se mudam mentalidades» e que a intenção não é «criar uma guerra entre cidadãos», mas sim «encontrar um ponto de equilíbrio» em que cada pessoa possa escolher se quer ou não assistir.