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Três Moscãoteiras, tiram de si para dar aos animais

27 Agosto 2021
Jéssica Moás de Sá

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Jéssica Moás de Sá

27 Ago, 2021

Athos, Porthos e Aramis são os nomes dos Três Mosqueteiros originais do romance que conta a história de três soldados ao serviço do rei de França, Luís XIII (com base nos factos históricos do século XVII). O trocadilho feito pelas Três Moscãoteiras, essas, bem atuais, entede-se: Estas são soldadas ao serviço dos amigos de quatro patas, que fazem tudo o que podem para os proteger. Sílvia Caixeiro, Inês Silva e Joana Caetano não são um romance histórico, mas sim pessoas reais que têm «em comum o amor pelos animais». Resgatam animais da rua, levam-nos ao veterinário, acolhem-nos em casa, arranjam casas para eles, alimentam-nos, entre muitas outras coisas. Fazem-no não só a título individual como em colaboração com o Canil Municipal da Batalha.

Sílvia Caixeiro, natural do Reguengo do Fetal (Batalha), é a «mamã» do grupo e o motivo para despertar para a causa animal pode surpreender. «Em 2014 encontrei um cão de porte grande à beira da estrada que estava ferido. Tentei pedir ajuda a várias associações mas não consegui e por isso tentei eu ajudar o animal, reparei que ele não se conseguia mexer, dei-lhe comida, pus uma mantinha, mas quando me baixei, ele assustou-se e mordeu-me», conta. Ao inverso do que se podia esperar, Sílvia não ficou com medo, percebeu sim que os «animais precisam de atenção e apoio que não têm». Naquele momento teve de chamar o INEM e, por isso, não conseguiu continuar a ajudar o cão, mas pediu para que não o abatessem, algo que veio a acontecer.

A partir deste clique, começou a ajudar animais na sua área de residência e um dia foi chamada para ajudar nove cachorros que estavam junto ao pinhal atrás da Exposalão e foi nesse dia que conheceu a Inês Silva: «Uma cadela tinha tido nove cachorros e eu ia alimentando, mas não os conseguia apanhar. Um dia que ia dar alimento, encontrei uma “menina” com um púcaro na mão que ia fazer o mesmo». Nunca mais se largaram. Inês Silva é natural de Porto de Mós mas vive há vários anos na Batalha e para ela, a conexão com os animais foi algo inato. «Eu nasci assim. Desde que me conheço que consigo olhar nos olhos de qualquer animal e que os consigo sentir», refere. Sempre teve gatos em casa dos pais e aos 8 anos teve a primeira cadela: «A minha Lira», diz, carinhosamente. «Sempre quis ser mais, fazer mais, porque sou de uma geração [tem 41 anos] onde não havia este tipo de condições, onde a luta podia ser sozinha. Já depois de casada, sempre disse que queria ter uma casa com quintal para ter animais. E assim foi, os animais que ia vendo na rua iam também lá para casa». Inês Silva sabia que queria ajudar, mas as associações que conhecia eram de longe e embora fosse ajudando e estando em contacto com o veterinário municipal da Batalha, isso ainda não chegava. O encontro com Sílvia no pinhal foi uma consequência deste seu ímpeto: «O meu pai viu a Sílvia e em conversa percebeu que ela gostava muito de ajudar os animais e que estava a cuidar deles e eu pensei logo que deveria ser de uma associação e quis ir descobrir». Desde esse momento que a dupla tem estado atenta na defesa dos animais e mais tarde, a dupla virou tripla.

Joana Caetano é natural de Porto de Mós e apesar de ter chegado mais tarde, o amor pelos animais é em igual medida. «Eu sempre tive animais, o meu primeiro cão viveu comigo 17 anos», recorda Joana. Um dia pediu «ajuda nas redes sociais por causa de um cão ou de gato e um amigo em comum com a Inês falou-me dela. A Inês era voluntária no canil, falei com ela e ela ajudou-me nessa situação. Uma semana depois apareceu em minha casa a perguntar se podia ficar com uma gatinha até arranjar uma família de acolhimento. Eu nunca tinha tido gatos porque era alérgica, mas a verdade é que depois a Inês arranjou uma família e eu não a deixei ir», conta, entre risos.

As três revelam ter «uma ligação muito forte» e começaram a destacar-se como voluntárias do canil da Batalha. «O mês de janeiro de 2020 foi a grande viragem para nós, conseguimos marcar a nossa diferença. Em agosto fizemos a página das Três Moscãoteiras», explica Inês Silva.

«Fazemos milagres»

A resposta curta e imediata é esta: «Fazemos milagres». Sem espaços adequados para ter os animais, com recursos financeiros pessoais, sem serem uma associação formal, as Três Moscãoteiras procuram fazer «o máximo» que podem. «Fazemos um pouco de tudo, ajudamos os “meninos” do canil, tentamos arranjar boas famílias para os animais, tentamos prestar cuidados de saúde. Por exemplo, os gatinhos bebés não estão no canil, mas sim nas nossas casas. Damos amor, carinho, compramos a alimentação. O canil dá resposta a isso, mas não em quantidade suficiente e pedimos hoje, vem na semana seguinte, tem um processo de aprovação», explica Joana. As Moscãoteiras já são reconhecidas por muitos e são, muitas vezes, solicitadas para recolher animais abandonados ou feridos. «Fazemos tudo isso mas não temos uma estrutura com condições para abrigar os animais. O ano passado chegámos ao cúmulo de não dormirmos nos nossos quartos porque estavam ocupados com gatos. Abdicamos do nosso conforto para poder ter uma divisão ou mais para ter espaço para as ninhadas, mãe e bebés, até porque não podemos misturar os gatos por causa dos vírus», explicam. «Quando falamos de gatinhos bebés doentes temos que lhes dar um bom paté, leite, ter biberões, de três em três horas de noite acordamos para dar o biberão. Temos de estimular o bebé a fazer as necessidades, basicamente fazemos a vez da mãe», acrescentam. Embora dispensem o «reconhecimento pelo esforço», há uma coisa que fazem questão de pedir: «Pedimos que, depois de nós termos depositado tudo naquele gatinho, entre alimentação, idas ao veterinário, noites sem dormir, a família que o receba dê todo o valor à vida que ali está».

As Três Moscãoteiras frisam, no entanto, que as pessoas boas com as quais se têm cruzado neste caminho, acabam por permitir todo este trabalho. Exemplo disso é o «Doutor Esteves», o atual veterinário do Canil Municipal da Batalha. Os animais que cuidam por “causa própria”, fora da área da Batalha e que nada têm que ver com os animais do canil, são também cuidados por ele. «Não entram no canil, mas entram na clínica dele e ele diz-nos que não precisamos de pagar tudo de uma vez, que podemos pagar conforme pudermos, mas que o animal não fica sem tratamento», salientam. Os donativos que recebem também são fundamentais para irem conseguindo fazer face às despesas.

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