«Acredito nas minhas capacidades e acho que vou fazer uma boa prova», antevia Manuel Bartolomeu, atleta natural do Alqueidão da Serra, poucos dias antes de representar a seleção portuguesa no Campeonato da Europa de Youth em triatlo, que começa hoje e termina domingo, dia 18, em La Baule (França). Antes de partir, Manuel Bartolomeu, de 16 anos, falou com O Portomosense, numa conversa onde garantiu «não estar muito nervoso» com a sua segunda internacionalização, mas em que reconheceu o significado que o nervosismo pode ter nestas situações: «Quer dizer que estamos preparados para o que vem, que sentimos que somos bons para dar o melhor».
Para chegar a França, Manuel Bartolomeu tinha de ficar, pelo menos, em terceiro lugar na Prova de Apuramento Youth, que decorreu em julho em Entre-os-Rios. Um desafio que passou com distinção, embora a prestação não tenha tido o brilho desejado pelo triatleta. «Correu bem, mas podia ter corrido melhor. Senti-me bem na natação e na bicicleta, mas na corrida já estava um bocadinho mais fraco. Acabei em terceiro, o último a apurar-se», conta. Com o apuramento garantido, as últimas semanas têm sido de trabalho árduo, com treinos diários – inclusive ao fim de semana – tudo para conseguir dar o melhor em França. Depois de na última semana ter havido uma redução da carga de treino para chegar à prova em pleno, agora a preocupação é conseguir um «bom lugar» e assegurar o apuramento para a final. «Um top 10 era bom e já dava para ganhar o estatuto de Alto Rendimento», afirma.
A estagnação e a ânsia de evoluir
Manuel Bartolomeu foi, durante cinco anos, atleta federado do Fátima Escola de Triatlo mas a «falta de apoio» nos treinos e a necessidade de evoluir levaram-no a querer mudar para o Clube de Natação de Torres Novas (CNTN), onde está há cerca de um ano. «Precisava de mais carga de treino. Além disso, também já não tinha ninguém para treinar comigo», justifica. A mudança, bastante ponderada, foi conversada em conjunto com os pais que hoje se mostram satisfeitos por terem tomado essa decisão. «Ele estava estagnado. Por isso, ou mudava ou ia ser complicado, a nível de evolução. Provavelmente se não tivesse mudado, já tinha desistido», acredita a mãe, Ivone Vieira.
A mudança para Torres Novas obrigou a uma gestão «nem sempre fácil» das rotinas familiares, um esforço que é compensado pela entrega do filho ao desporto, a quem Ivone Vieira reconhece «a dedicação, o esforço e uma força de vontade muito grande». «Este é um desporto duro mas ele está focado e leva os treinos muito a sério», refere. «A família apoia no mais que pode», garante, esperando, contudo, que todo este sacrifício dos pais seja, um dia, reconhecido pelo filho.
Hoje em dia, os treinos são «muito mais puxados» do que aqueles que tinha no Fátima e obrigam-no muitas vezes a chegar a casa às 21h30, mas o triatleta que compete no escalão de cadetes, mostra-se feliz no CNTN, onde garante que tem um «bom grupo de treino». «O principal é haver um bom grupo para que se possa treinar em conjunto, isso é meio caminho andado para o resto correr bem», considera a mãe.
Primeira internacionalização
«Uma experiência muito fixe», é assim que descreve a participação na Taça da Europa de Triatlo que decorreu na Hungria em julho, a primeira vez que vestiu a camisola da seleção portuguesa. Manuel Bartolomeu era um dos atletas mais novos em competição, ainda assim, terminou no top 15, um feito que o deixou «muito contente». Da sua primeira internacionalização, o triatleta recorda um episódio engraçado que decorreu durante a prova de natação: «Levei porrada com fartura. Os meus colegas tinham quase todos dois metros de altura. Uns passavam por cima de mim, outros por baixo», conta, entre risos.
Enquanto Manuel Bartolomeu «dava o litro» na Hungria, por cá, todos torciam por si. Inclusive no café da terra, onde era o tema de conversa e alguém se questionava: «Já viste que foi a primeira pessoa do Alqueidão a representar Portugal lá fora?». «Caiu-me a ficha nesse momento, como se até aí não tivesse percebido a dimensão» do que Manuel Bartolomeu acabara de conquistar. «Foi um orgulho enorme», frisa. Agarrados à televisão, a família acompanhava a prova e torcia por Manuel, que não foi logo apurado. «Foi a sofrer quase até ao último minuto», recorda Ivone Vieira. Desta vez, a família irá trocar o sofá pelas bancadas do estádio de França, onde irá decorrer o campeonato e poderá ver de perto a prestação do filho. Mas uma coisa é certa: o coração de mãe vai continuar a sofrer. «Para mim, o mais importante, é quando o vejo chegar inteirinho à meta», diz.