Artur Rosa e Natália Vieira estão unidos, não só no matrimónio mas também na atividade profissional que desenvolvem diariamente. Vivem na mesma casa, mas têm dois espaços distintos onde ambos arranjam os cabelos de tantos quantos entrarem nos seus estabelecimentos. São cabeleireiros desde muito novos, mas dedicam-se a públicos diferentes. Artur Rosa é barbeiro e atende apenas homens, Natália Vieira, «apesar de já ter atendido alguns homens», tem como especialidade o público feminino, até porque «os homens», manda-os «para o estabelecimento do marido».
O mais antigo barbeiro em Porto de Mós
Aos 13 anos já Artur Rosa, hoje com 67, era aprendiz da profissão na vila. Esteve até «aos 19 anos» a trabalhar com o «senhor Avelino» que foi o seu primeiro mestre. Não se lembra bem o porquê de ter começado a aprender, mas com a idade que começou, admite que não sabia «o que queria» fazer no futuro, tendo sido apenas um acaso da vida. Fez um interregno quando emigrou, durante um ano e meio, para França, procurando «um futuro mais estável», mas por questões de legalização, o seu regresso a Portugal foi rápido.
Depois de algum tempo parado, continuou na profissão de cabeleireiro em Leiria, onde esteve a trabalhar cinco anos. Regressou ao concelho com «intenção» de se estabelecer por conta própria e assim o fez tendo casa aberta há mais de 30 anos, atualmente a mais antiga. Nunca teve medo porque «sabia que tinha 100% de capacidade»: «Quando fui para Leiria, o trabalho não tinha nada a ver com o que se fazia aqui. Aprendi muito e foi assim que captei os clientes», garante. Tem «clientes fidelizados» desde esse começo e muitos deles hoje são seus «amigos». É esta partilha e convivência com os clientes uma das coisas que mais gosta nesta profissão, em que «nunca se está só». Sente-se completamente «realizado», confessa.
Artur Rosa tem a particularidade de ser cego do olho esquerdo desde os 4 anos e esse nunca foi um impedimento para cortar cabelos. «Nunca senti essa dificuldade porque ceguei muito novo, sempre me habituei a ver apenas com um olho», explica. Sente-se capaz de manter o negócio por mais anos, apesar do «cansaço enorme» que esta profissão provoca: «Quando há muito trabalho saio daqui muito cansado». O negócio tem-se mantido «estável» ao longo dos anos e por isso, sempre foi «viável» economicamente.
A evolução dos tempos trouxe, acredita, homens menos exigentes. «Antes os homens queriam tudo ao pormenor, não podia estar um pêlo a mais», admite, lembrando que por ser mais curto, no cabelo do «homem se notam mais as imperfeições» em relação aos cabelos longos das mulheres. Hoje, conta, «os homens cortam por necessidade e querem coisas mais simples».
Há 40 anos com as mesmas clientes
Natália Vieira começou a «aprender a ser cabeleireira» aos 17 anos, em Leiria. Quando saiu da escola começou por aprender costura, «mas ainda não era bem aquilo» que queria. Em casa dos pais surgiu a ideia de se tornar cabeleireira e durante cerca de dois anos viajou diariamente até à cidade, aprendendo um pouco mais a cada dia. Com o tempo e a experiência começou a gostar cada vez mais do que fazia. Abandonou o trabalho em Leiria, por ser longe e obrigar a viagens diárias de vários quilómetros e foi quando começou a trabalhar numa cabeleireira em Porto de Mós.
A sua primeira experiência “a solo” foi na casa dos pais: «Os meus pais arranjaram-me um salão em casa para ir trabalhando enquanto fui solteira». Depois de casar, foi na casa que construiu quando casou com Artur Rosa, que montou o salão por conta própria. Nestas duas experiências angariou uma «boa clientela» e enquanto cuidava dos filhos pequenos esta foi uma forma de conjugar as duas coisas. Já com os filhos mais crescidos e por ouvir «queixas das clientes» de que o salão era afastado da vila, decidiu abrir o estabelecimento onde atualmente ainda se encontra.
Ainda hoje Natália Vieira preserva as clientes que começaram por ir ao seu salão em casa dos pais. São «amigas e confidentes», muitas delas, como se de um psicólogo se tratasse. Conseguiu ainda juntar, sem grande dificuldade, «às habituais, novas clientes». Sente que tem a vocação necessária para a profissão que lhe permitiu «lidar sempre bem com o público». Hoje em dia, de conhecer tão bem as suas clientes, já sabe exatamente o que querem quando entram no seu salão e acredita que saem de lá «mais bem dispostas do que entraram».
Apesar de ter entrado neste negócio muito nova e não ter experimentado muitas outras coisas, sente-se «realizada». Tal como o marido, pretende manter o estabelecimento aberto enquanto a saúde lhe permitir, embora reconheça também que esta é uma profissão «muito cansativa», continua a ter gosto em acordar todos os dias para cumprir o seu dever.