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Estado do ensino público em Portugal preocupa encarregados de educação

3 Fevereiro 2023
Jéssica Moás de Sá

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Jéssica Moás de Sá

3 Fev, 2023

Numa altura em que é quase impossível ficar indiferente à luta dos professores, com a qual os pais «concordam», tem sido tempo para alguns encarregados de educação fazerem uma análise mais profunda ao estado da Educação. Mariana Ferraz, aluna do 6.º ano na Escola Doutor Manuel de Oliveira Perpétua (Corredoura), começou o ano letivo sem professores atribuídos em várias disciplinas. A mãe e encarregada de educação, Dora Alexandre, revelou a O Portomosense a preocupação por toda esta situação, que melhorou significativamente em dezembro do ano passado, mas que continua por regularizar por completo. «Durante o mês de novembro, esteve sem vários professores [o ano letivo começa em setembro], no mês de dezembro começou a ter professores, mas neste momento volta a estar sem dois professores», explicou a mãe.

Na opinião desta encarregada de educação, tanto a sua filha «como os outros meninos» vão ser «muito afetados»: «Muito sinceramente, se houvesse a possibilidade de ela ficar novamente a fazer o 6.º ano, acho que seria a opção que eu iria tomar, não vai com bases nenhumas para o 7.º ano». Num dos casos que Dora Alexandre conhece, o facto de não se conseguir professor, tem que ver com as condicionantes de horário. «Eu percebo que se chamam os professores para fazer metade do tempo ou nem isso, eles vêm de tão longe e ainda gastam dinheiro em gasóleo ou em estadia, o que é que vão receber ao final do mês?», questiona, admitindo compreender a posição dos professores.

Se por si só, a falta de professores tem consequências na aprendizagem, outras consequências negativas arrastam-se desde que a pandemia começou. «O 5.º ano já tinha sido muito complicado, porque já não aprenderam as bases das matérias, uma coisa é uma aula presencial, outra é virtual, houve muitas coisas que os pais não entenderam para lhes poder ensinar, eu não conseguia ensinar certas coisas», admite a mãe, que nesta fase de pandemia teve de assumir um papel mais ativo no ensino da filha. No 6.º ano, que começou sem professores, notaram-se também as repercussões deste ensino condicionado pela COVID-19: «Nestas últimas avaliações que ela teve, já não sabia fazer contas básicas, baralhava coisas, por isso é que digo que estes alunos estão sem bases», reitera.

Quanto às greves, que também têm afetado algumas turmas, Dora Alexandre, considera que estas «fazem sentido» e entende algumas das reivindicações dos professores, entre elas o facto de lhes ser pedido um horário reduzido e as remunerações pouco alteradas desde o início da carreira. No entanto, a encarregada de educação admite que têm tido impacto nos alunos. «É um desgaste muito grande para os pais e para os miúdos, principalmente na fase de fichas de avaliação porque nos leva a deitá-los tarde para estudar e depois chegam ao dia da avaliação e não têm testes por causa das greves», conta. «Foi um grande acumular de testes, na última semana houve testes praticamente toda a semana e assim não dá para estudar dois ou três dias antes», conclui.

“A minha filha já mudou três vezes de professora”

Tatiana Mendes tem a sua filha a frequentar neste momento o 4.º ano na Escola Básica de Casais Garridos (Juncal), que não tem sido muito afetada pelas greves, ainda assim, a instabilidade tem sido uma constante: só este ano a sua filha já teve três professoras diferentes. Isto, a juntar aos quase dois anos que esteve em casa durante a pandemia – em anos estruturais de ensino –, fez com que «perdesse muitas bases». «Não está preparada para a etapa seguinte, depois cada vez que vem outro professor, ensina com um método diferente», frisa a mãe. A encarregada de educação diz ainda que a sua filha «sempre teve muita facilidade» e por isso, as dificuldades são «mais notórias».

O motivo da ida e vinda de professores, tirando um dos casos em que a professora deixou o trabalho por licença de maternidade, é desconhecida para Tatiana Mendes, ainda assim, a mãe acredita que se possa dever aos quilómetros que tinham que fazer: «Eram de muito longe, e as professoras queixam-se sempre disso, têm de deixar a família e vê-la apenas ao fim de semana ou então fazer muitos quilómetros diários». A encarregada de educação não é, no entanto, da opinião de que a filha deveria repetir o ano: «Ficar aqui mais um ano, sem saber a professora que lhe vai calhar, não é solução. Penso que ela ainda conseguirá “apanhar o barco”», diz.

Tatiana Mendes trabalha por conta própria, o que lhe permite ficar com a filha quando, por algum motivo, não há aulas. «Aqui, a maioria dos pais deixa os filhos com os avós, mas para quem não tem essa possibilidade, é muito complicado, reconheço que tenho sorte nesse aspeto», sublinha.

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