Normalmente, o Natal é o tempo da extravagância, o tempo em que se olha um pouco menos à carteira ou em que se “peca” um pouco mais no valor do que compramos. Porque só é Natal uma vez por ano, porque o filho quer mesmo mesmo aquele presente, porque queremos ter uma mesa farta e porque acreditamos que, felizmente, é um gasto que podemos fazer e que vale a pena “apertar o cinto” noutras alturas do ano e noutras facetas da nossa vida diária, para termos o nosso Natal. Dois anos e meio depois de a COVID-19 ter chegado ao nosso país e ter, esperamos, modificado um pouco o pensamento da generalidade das pessoas acerca das relações pessoais e dos bens materiais, passamos o Natal “a braços” com uma guerra na Europa e assomados pelo aumento dos preços e pelo receio do desconhecido futuro.
Assim, muitas cidades e vilas por esse país fora reduziram a quantidade de iluminação de Natal. Há quem aplauda a ideia. Há quem a ache absurda, que argumente que é o tempo de deixar as pessoas mais felizes e que as luzes, nesta altura do ano, dão um conforto que aquece o coração – mesmo os que, por inúmeros motivos, andam mais tristes. Há – e digo-o a título de exemplo porque certamente não será única – uma freguesia do concelho de Lisboa que abdicou, integralmente, das luzes de Natal, para dar um vale de 30 euros a cada criança, filha de um recenseado na freguesia, para gastar no comércio local, apoiando simultaneamente famílias e comerciantes. Há estudos que falam da intenção dos portugueses de poupar na compra dos presentes, na ceia… Podemos, por tudo isto, afirmar de antemão que será um Natal diferente, pelo menos nalgumas casas, nalgumas famílias.
O Natal é uma festa cristã e, por isso, nada melhor do que reproduzir aqui palavras recentes do Papa Francisco.
«Na sua pobreza genuína, o presépio ajuda-nos a redescobrir a verdadeira riqueza do Natal, e a purificarmo-nos de tantos aspetos que poluem a paisagem natalícia. Simples e familiar, o presépio recorda um Natal diferente do Natal consumista e comercial: é outra coisa; recorda-nos como é bom para nós apreciarmos momentos de silêncio e oração nos nossos dias, muitas vezes dominados pelo frenesim. [Para ver o presépio] É preciso baixar-se, é preciso fazer-se pequeno, deixar toda a vaidade para trás, para chegar onde Ele está. E a oração é a melhor forma de dizer obrigado perante este dom do amor gratuito, de dizer obrigado a Jesus que deseja entrar nas nossas casas e nos nossos corações». Por seu lado, a árvore de Natal «sugere uma reflexão adicional: tal como as árvores, também os homens precisam de raízes. Pois só quem está enraizado em boa terra, permanece firme, cresce, amadurece, resiste aos ventos que o sacodem e torna-se um ponto de referência para aqueles que olham para ele».
Olhando a estas palavras, que certamente os cristãos sentirão de uma forma diferente, podemos também aplicá-las a quem o não é. Aliás, é esse o dom do Papa Francisco, ser o dono de um discurso que se aplica a tantas diferentes pessoas, a outras tantas diferentes realidades, continuando atual, inclusivo e cativante.
Que no tempo que nos resta até ao Natal possamos fazer as escolhas certas para que a nossa Consoada tenha o significado verdadeiro. Se o Natal é o amor de quem nos rodeia, não há crise que o destrua.