Catarina Correia Martins

Um oceano pelo meio

18 Out 2022

É significativo o espaço que, nesta edição, dedicamos às comunidades imigrantes que se têm fixado em Porto de Mós, com base nos números e na opinião do poder local, procuramos traçar um retrato geral, mas é, depois, a partir de dois testemunhos em particular que ouvimos “o outro lado da barricada”. Emeli Silva e Ana Bachega são brasileiras, respetivamente de São Paulo e do Paraná, e vivem ambas, com as suas famílias, há poucos meses no concelho de Porto de Mós. Aceitaram, amavelmente, falar connosco, contar-nos a sua experiência, as maiores dificuldades, as lutas mais suadas e também as conquistas mais saborosas. São, cada uma à sua maneira, contadoras de histórias, da sua história, e que história terão para contar aos netos.

A emigração é um ato, na minha opinião, de coragem. Deixar tudo aquilo que se sente e conhece em busca de uma vida melhor, seja para melhor satisfação profissional ou para, economicamente, dar uma vida mais confortável à família. Seria, para mim, um sacrifício hercúleo e não imagino o que possa significar ter um oceano a separar-nos da realidade que sempre conhecemos, das pessoas que aprendemos a amar, da vida que temos como nossa e certa.

Falei há pouco tempo com uma portomosense, filha de portomosenses, pais, filhos e netos, todos eles a viver nos Estados Unidos. Esta senhora com quem falei nasceu em Portugal, mas cedo se mudou, por opção dos pais, em busca do “sonho americano”. A vida que tem é, inquestionavelmente, diferente da que teria se tivesse, toda a vida morado em Porto de Mós, em Portugal. As suas raízes, na teoria, estão cá, mas e na prática? Os grandes acontecimentos da sua vida, provavelmente, aconteceram na América. É lá que estão os seus descendentes, é lá que estão a construir família e, certamente, sentir-se-ão, todos eles muito mais americanos do que portugueses. E eu não consigo imaginar o que será isso. Por isso, por tudo isso, mas por tudo o que está para além disso, tiro o chapéu aos que vêm e aos que vão, e faço-lhes uma vénia, pela resiliência, pela coragem e pela capacidade de adaptação.