Luís Vieira Cruz

Um Parque Solar que caiu mesmo antes de se erguer

9 Nov 2023

“Foi sob o pretexto da instalação de painéis solares que 20 hectares de floresta foram à vida”

O tema que faz a capa da edição 1009 d’O Portomosense e que pode ler na íntegra nas páginas 4 e 5 deste jornal deve fazer-nos refletir. Em causa está a queda de um projeto, mas não um projeto qualquer. Escrevo, naturalmente, sobre o malfadado Parque Solar do Juncal.

É certo e sabido que no mundo dos negócios tudo aquilo que são planos virados para o futuro podem descambar numa questão de parcos segundos, ora porque um parceiro/investidor abandona a empreitada, ora porque alguém, por exemplo, chega à conclusão de que não há viabilidade por motivos vários. Mas… e quando o mal já está feito? Foi sob o pretexto da instalação de mais de duas dezenas de milhares de painéis solares, para que se criasse a tão falada central fotovoltaica capaz de “alimentar” 5 800 habitações, que 20 hectares de floresta, maioritariamente constituída por pinheiro-bravo, foram à vida. «Um verdadeiro massacre», dizem uns. «Um autêntico crime ambiental», dizem outros.

Estamos em pleno século XXI, temos acesso a tecnologia de ponta em praticamente todos os setores de atividade, a Inteligência Artificial e a Ciência estão a permitir-nos avançar a velocidades absurdas (quando comparamos com o passado) e a questão que fica no ar é se mesmo assim há necessidade de se dar cabo do equivalente a uma vintena de campos de futebol para se chegar à brilhante conclusão de que afinal a orografia do terreno não cumpre os requisitos? Algo parece não bater certo.

Olhemos, novamente, para a vertente do negócio. O Parque Solar teria previsto um período de vida útil máximo de 30 anos. Depois disso, se cumprido o estipulado, seria desmantelado. Até lá, os tais 20 hectares que até há não muito tempo estavam cobertos por um verde vivo seriam pintados com o tom metalizado das estruturas. Tais danos visuais seriam “por um bem maior”. Favoreço as energias renováveis e estarei sempre de acordo com medidas plausíveis para que tornemos o mundo mais sustentável. Mas agora, passando na região, nem verde vivo nem tons metalizados. Apenas um monte de cepos secos rasamente cortados para… Isso mesmo, nada.

Há no horizonte planos de reflorestação, e menos mal que se espera que aquela floresta volte a ser povoada por tudo menos eucaliptos, mas que ninguém diga que um desmatamento deste calibre pode ser visto como «uma vantagem na limpeza dos terrenos», isso é tapar o sol com a peneira.

Aparentemente foram cometidos demasiados erros ao longo deste processo e não vale a pena olhar muito mais para trás. Há que fincar os olhos no presente e, acima de tudo, ficar atento ao futuro daquele lugar. Oxalá não se encontre lítio por aquelas bandas ou, daqui a uns anos, alguém mais cairá.