Chegou o momento de saltar dos ecrãs novamente para as ruas da pequena aldeia da Barrenta. O palco voltou a ser o de sempre e, apesar de se continuar a gravar muitos vídeos e a tirar muitas fotografias, o Encontro das Concertinas da Barrenta não se ficou apenas pela versão online. Nas estradas, nas ruelas que se ligam à rua principal, nos parques de estacionamento, em todos os locais pudemos encontrar tocadores a “dar aos dedos” – essa é uma das características deste encontro –, que mais uma vez vieram de todos os cantos do país. «Em termos de números, podemos dizer que passaram cerca de 550 tocadores pelo palco principal, divididos em cerca de 50 grupos», revelou a O Portomosense o presidente do Centro Cultural da Barrenta (CCB), Ricardo Pereira.
A única forma de contabilizar os participantes é mesmo «pela passagem no palco», no entanto, muitos outros tocadores podem passar pelo recinto. «Muitas vezes acontece que, livremente, há outras pessoas que vêm, que tocam e que, por alguma razão, não sobem a palco, por isso, é possível que mais tocadores tenham por cá passado, mas 550 é garantido», explica o responsável. Falando não apenas em números, mas também em termos logísticos, o balanço que Ricardo Pereira faz desta 21.ª edição do evento é «muito bom». «Falo ainda em cima do acontecimento e sem nos termos sentado à mesa para falar, mas do que fomos vendo, foi um recomeço fantástico», salienta. Havia «alguma incerteza do que ia acontecer» pós-pandemia, mas «a meta foi mais do que superada a todos os níveis»: «Pela organização, pela forma cuidada com que as pessoas foram chegando, sem complicações, com facilidade de acesso», adianta.
Na opinião do presidente do CCB, a entidade organizadora do certame, as «dificuldades que o país atravessa» podiam ser o principal entrave à adesão do público em geral, mas nem isso aconteceu. «Sentimos que o carinho que, há alguns anos, vamos transmitindo às pessoas, superou qualquer dificuldade que pudessem ter», afirmou Ricardo Pereira. «Vieram pessoas de muito longe, do Alentejo, do Algarve, mesmo pessoas particulares que vieram apenas para assistir e isso é um motivo de orgulho para nós», reforçou.
Alguns vendedores, que marcaram presença este ano, falaram com O Portomosense (ver em baixo) e revelaram que em termos de vendas o evento não correu tão bem como desejavam. «Não conseguimos justificar o porquê, até porque pelo que vi, a nível de pessoas não reduziu, a assistência não foi em nada inferior», considera o presidente. «Não senti que existisse uma redução de público, pela envolvência, pelo chegar dos carros, pela quantidade de parques cheios, seguramente que não ficou atrás do que tem acontecido nos últimos anos», acrescentou. Ricardo Pereira destacou ainda «o recorde dos recordes» em termos de autocaravanas: «Impressionou-nos muito. As autocaravanas foram chegando durante a semana, acho que é um sinal de que a mensagem tem passado e que as pessoas têm vontade de chegar até nós», aponta.
O único ponto negativo foi a temperatura «que ao anoitecer se fez fria»: «Acho que condicionou a que as pessoas se aguentassem mais tempo, ou seja, o que se pode ter notado é que o evento não se prolongou com aquela quantidade toda de pessoas pela noite fora», explicou o presidente. Ricardo Pereira quis deixar um «agradecimento a todas as pessoas que colaboraram e que visitaram a Barrenta» de uma forma «ordeira, limpa e eficaz desde a chegada até à partida».
A opinião dos vendedores participantes nesta edição
«Eu e o meu marido fomos das primeiras pessoas a vir aqui à Barrenta vender. Começámos a perceber que vinha cá muita gente e acabámos por pedir à organização para vir também. Vendemos arrufadas, ferraduras, broas de batata-doce, vários bolos, gomas, pipocas, algodão doce, castanhas, tremoços, frutos secos, etc… Este evento traz muita gente, mas não vendemos muito normalmente. Hoje também não se está a vender muito, mas só no fim saberemos. Da última vez esteve cá mais gente, mas estão a começar a chegar mais pessoas…»
Fernanda Simões, Riachos
«É a primeira vez que aqui venho. Disseram-me que havia aqui uma concentração de concertinas e vim ver se o negócio corria bem. Gosto de concertinas e de música, mas gosto também do negócio. A nível de gente realmente não desiludiu, estão aqui muitas pessoas, mas para as pessoas que aqui andam, podia-se vender mais, está fraco, mas as pessoas têm pouco poder de compra. Eu vendo alhos e apenas alhos e até nem tenho sentido muito a crise, porque vendo um produto que é sempre preciso. Corro o país todo a vender».
Adão Moreira, Costa da Caparica
«Já é a terceira vez que venho. Não venho pelo lucro, mas tenho uma doença rara e estou à beira da Alzheimer e a médica diz que não devo estar muito tempo no mesmo sítio. É uma forma de me distrair. Este ano está muito menos gente, no primeiro ano em que vim, às seis horas já não se podia romper com os carros. Vendo um pouco de tudo, panos, aventais, saquinhos para ir às compras, as peneiras do pão, bandoletes para crianças, babetes, terços, etc… Já vendi alguma coisa e para aquilo que atravessámos há dois anos, já está bem bom».
Ana Leão, Alcanede
Fotos | Jéssica Moás de Sá