No dia 21 de fevereiro, Ana Barros, de 27 anos, natural da Batalha, saiu do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto, rumo a Banguecoque, na Tailândia. Além da mochila que carregava aos ombros levava também uma mão cheia de sonhos que pretendia ver concretizados numa viagem há muito desejada e que foi despoletada por um desaire. «Tive uma infelicidade no início do ano. Fiquei sem o meu carro mas fui indemnizada pelo seguro e aí pareceu-me ser a oportunidade ideal», começa por explicar.
Saiu de Portugal com um roteiro bem delineado na sua mente: Tailândia, Camboja, Vietname e Laos eram os países que visitaria. «O meu objetivo era chegar, conhecer e entrar na cultura dos sítios», refere. E assim foi, até 12 de março. «Nunca me vou esquecer desse dia», desabafa. Nessa altura, já se assistia à expansão da pandemia. «As pessoas começaram a fugir de mim e fui proibida de entrar em alguns espaços. Senti que começou a haver algum comportamento xenófobo», relata.
Com todo este cenário, teve que tomar uma decisão: ou saía do Vietname para outro país que estivesse «mais tranquilo», ou regressava a Portugal. Decidiu rumar a Bali, na Indonésia. No entanto, também lá, rapidamente, tudo mudou. Sem seguro de saúde ou vacinas, o maior receio era que pudesse adoecer.
Pela primeira vez, pensou que estava na altura de interromper a sua viagem. «Ponderei abandonar, antes que ficasse presa nalgum país, que era tudo o que não queria», desabafa. Depois de ouvir a opinião da família, Ana Barros comprou um bilhete para Banguecoque com o objetivo de regressar a Portugal. «Foi uma decisão que me custou muito, porque fiquei com a sensação de missão incompleta», recorda.
Na Tailândia, a batalhense comprou um bilhete para Portugal que faria escala em Moscovo. No entanto, acabou por ser cancelado e das opções de que dispunha, escolheu Madrid. «Quando chegámos deparámo-nos com um aeroporto vazio e vimos pessoas com fatos quase de astronauta a desinfetar tudo», relata. Com três rapazes da zona de Pombal, alugou um carro. Aquando da chegada à fronteira, estranharam a recetividade: «Não nos mediram a febre e nem nos recomendaram fazer quarentena», afirma.
Apesar disso, decidiram fazer e estão a fazê-la em conjunto, desde o dia 19, na Figueira da Foz, onde um dos jovens tem uma casa de férias. Antes passaram pelas respetivas casas para ir buscar roupa lavada e mantimentos. Os cumprimentos aos familiares, esses foram feitos de longe. «Está a ser engraçado, temos formas de estar na vida muito idênticas», sublinha. Os dias são passados a fazer meditação, ioga, bolos, palavras cruzadas e a jogar jogos no computador. Superação é o sentimento que Ana Barros trouxe desta viagem. Depois de passado este período, de uma coisa tem a certeza: «Quero voltar exatamente ao sítio onde estava: no meio do Vietname. E assim, continuar a minha viagem», confessa.