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Uma volta de 120 quilómetros ao concelho

2 Agosto 2021
Jéssica Silva

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Jéssica Silva

2 Ago, 2021

Durante 16 horas e 37 minutos, Hélder Costa, natural de Alcaria, percorreu sozinho os limites do concelho de Porto de Mós, tornando-se na primeira pessoa a conseguir fazer, na totalidade, os 120 quilómetros do percurso, criado pela equipa amadora de trail Ninho Team, e assim arrecadar a primeira gola preta, a mais desejada. «O nosso concelho é enorme e como tal não é fácil alguém conseguir dar a volta inteira, isso só está realmente ao alcance dos melhores», reconhece Marco Franco, um dos principais mentores do projeto.

Por sua vez, Hélder Costa, embora defenda que aventuras mais longas, como a que fez, devam ser pensadas com «muito tempo de antecedência» para que tudo corra da melhor forma possível, o atleta, de 49 anos, admite que desta vez isso não aconteceu. A decisão de fazer o percurso tomo-a poucos dias antes, mas ainda assim fez questão de delinear uma estratégia e ponderar vários fatores como o seu estado físico, as condições climatéricas, o percurso e o facto de ir em autonomia (a depender apenas de si).

Sábado, dia 10. O relógio marcava as 17h15 e os termómetros 31 graus quando deu início à aventura, a que decerto, poucos, algum dia, pensarão em embarcar. Foi munido de «dois pães de leite com nutella, 10 gomas, duas papas de fruta para bebés, seis géis de 25 ml e duas barras de recuperação, que acabou por não consumir». Devido à hora a que partiu, com temperaturas ainda acentuadas, acabou por não fazer o percurso em total autonomia. Ao ver dois cafés abertos, foi-se abastecer de água, o que lhe facilitou a hidratação, e contou também com o apoio de dois amigos que já de madrugada lhe deram água e uma coca-cola frescas que lhe «souberam pela vida».

No decurso da sua aventura, Hélder Costa deparou-se com duas dificuldades, uma das quais surgiu pouco tempo depois de ter ligado o “motor”: «Por volta dos 30 quilómetros, o corpo, como máquina perfeita que é, diz-me que não quer correr naquele dia, que tinha uma dor e eu sabia que ali não podia ter nenhuma dor. É o corpo a mentir-nos para nós pararmos». O segundo obstáculo apareceu ao quilómetro 70 e aí viu-se obrigado a abrandar o ritmo. «Estava mesmo cansado. Tive que caminhar um pouco, hidratar bem e comer ainda melhor», recorda.

“À noite e sozinho pensa-se em tudo”

No meio da serra, o atleta enfrentou, completamente sozinho, as peculiaridades da noite que lhe propuseram diversos encontros fugazes. Nesse período, viu texugos, coelhos e até um rebanho de cabras que acredita que possa ter fugido. «Assustou-me um bocadinho porque não estava a fazer conta de fazer uma curva num trilho e, de repente, ver tantos olhos deitados, porque de noite é só mesmo isso que se vê, depois, ao aproximar, é que se percebe que tipo de animal se trata», confessa. Porém, houve outras situações caricatas que teve a oportunidade de viver, algumas até bastante improváveis, como a brincadeira de uma raposa com um cão, preso à corrente de uma casa. «O cão nunca ladrou, mas assim que me aproximei a raposa desatou a correr e a partir daí começou a ladrar e durante uns três quilómetros nunca parou. Devia estar com saudades da brincadeira», considera, entre risos.

Estando uma pessoa completamente “perdida” na imensidão da serra, engolida pelo silêncio da noite, no que é que se pensa? «Pensa-se em tudo. Sozinho e de noite, fazendo muitos quilómetros seguidos, sem haver nenhum contacto com a civilização, os nossos pensamentos vão para tudo. Tal como eu, acredito que muitos dos que fazem estas brincadeiras, certamente tomaram grandes decisões de vida enquanto corriam sozinhos em qualquer monte», frisa. Por outro lado, Hélder Costa considera que são precisamente os pensamentos, por vezes, bastante banais, que permitem superar os momentos mais difíceis. «Se vamos com uma pequena dor ou cansados, temos que nos abstrair», defende. No seu caso, a solução passou por algo tão simples, como contar até 100. «Quando vamos a ver a dor já passou», garante.

Às 9h30 de domingo, chegou finalmente à “meta”. À sua espera tinha vários amigos que o quiseram apoiar e acompanhar nos metros finais. «Essa foi a parte mais saborosa, a que emociona», confessa.

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