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Unidade de Saúde Familiar é uma novidade no concelho

27 Novembro 2019
Isidro Bento

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Isidro Bento

27 Nov, 2019

Foto: Jéssica Moás de Sá

Na área da Saúde, uma das principais novidades dos últimos tempos a nível concelhio foi a criação da Unidade de Saúde Familiar Novos Horizontes, com sede no Juncal e a abranger além desta, as freguesias de Calvaria de Cima e Pedreiras.

Leonel Santos, o seu coordenador, esteve na Rádio Dom Fuas, no programa Nós e os Outros, onde falou sobre esta unidade cujo modelo de funcionamento tem diferenças significativas relativamente ao da Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP) que cobre as restantes freguesias do concelho.

O médico começou por explicar que a ideia de formar uma USF no concelho não é nova. A primeira vez que isso foi tentado foi há cerca de 10 anos mas não houve a concordância por parte da tutela «por achar que iria criar divisões grandes no concelho». Em 2014, o Centro de Saúde foi “obrigado” a dividir-se em áreas distintas o que levou à criação de duas UCSP, uma na sede de concelho e outra no Juncal, um passo que o clínico diz ter sido «importante porque permitiu criar dinâmicas de trabalho diferentes e uma maior abertura à população, fugindo à ideia clássica de centro de saúde».

«Em 2017, [no Juncal] entendemos ter condições para nos propormos fazer um trabalho mais dinâmico e com outras exigências e responsabilidades e que constitui uma mais-valia para a população. Fizemos a proposta para a criação de uma USF e a homologação chegou a 3 de setembro de 2018», conta.

A Novos Horizontes está divida em três pólos: Juncal, Calvaria e Pedreiras. Conta com seis médicos e outros tantos enfermeiros, e cinco secretários clínicos. Tem cerca de 9350 utentes. Funciona de segunda a sexta-feira entre as 8 e as 20 horas no Juncal, e das 8h30 às 17 horas na Calvaria e nas Pedreiras.

Uma das novidades é que todos os utentes contam com uma equipa constituída por médico, enfermeiro e secretário clínico, que os acompanha em tudo aquilo de que necessitem. Cada polo dispõe de duas equipas, o que faz com que cada uma dê apoio a uma média de 1600 utentes. No entender do responsável, «o número atual de médicos e de enfermeiros é o ideal», o pior é o facto do grupo se encontrar disperso. «Quando alguém falta, outra pessoa assegura o seu trabalho, o que obriga a deslocações. Se estivessem todos no mesmo edifício, mais facilmente se superava essa ausência».
Apesar da dispersão de meios humanos e dos recursos físicos em triplicado, o médico considera que «a experiência está a ser gratificante» reconhecendo, contudo, que este modelo traz obrigações acrescidas e não são poucas. Assim, tem de haver tempo para consultas programadas que vão desde a que ficou marcada no final da consulta anterior, até àquelas que visam utentes que necessitam de vigilância redobrada como diabéticos, hipertensos, doentes oncológicos, grávidas e crianças. Da agenda da equipa fazem parte vários rastreios de saúde e cuidados ao domicílio e há todo o trabalho interno, desde a definição do plano de consultas, reuniões gerais ou de grupos de trabalho específicos e formação interna, bem como o acompanhamento dos vários estagiários de medicina e de enfermagem que a USF acolhe.

«É uma situação que exige mais trabalho, nomeadamente organizativo, porque um mês antes já temos de saber o que vamos fazer mas permite prestar um serviço muito melhor, ultrapassando situações em que, por exemplo, tínhamos às 8h30, 25 utentes na sala de espera, o que era desgastante para os próprios e colocava grande pressão sobre os profissionais. Agora, isso acabou. Se o utente necessitar de uma consulta não programada, marca e no prazo máximo de cinco dias é atendido, e se o caso for urgente é observado no próprio dia». Outra das vantagens é que «o utente sabe que nunca vai embora sem resposta, há toda uma equipa para o apoiar, mesmo que no momento o seu médico ou enfermeiro estejam ocupados». No Juncal, o último período de consultas programadas estende-se até às 20 horas, «o que é uma enorme vantagem para quem está empregado».

E como é que os utentes estão a reagir a este novo modelo? «Muito bem», diz o responsável, explicando que ficam bastante satisfeitos por saber que além das consultas programadas, se necessitarem conseguem marcar uma outra para daí a poucos dias e que se lhe for prescrito um exame clínico «não irão andar um mês com ele na mão até ser visto por um médico». «Ligar a um doente a lembrar que no dia seguinte tem consulta ou remarcar uma outra para quem se esqueceu da data e não compareceu, é algo frequente e as pessoas ficam muito agradadas com esse “mimo”», reforça.

Modelo de USF é mais exigente mas também mais motivador

Leonel Santos não tem dúvidas, o seu modelo preferido é, sem dúvida, o de USF. «É um trabalho mais responsável, mais exigente, mas mais motivador. Como somos auditados há uma extensa lista de critérios a cumprir e é muito bom chegar ao final do mês e ver os resultados e perceber que estamos no bom caminho. O próprio feedback dos utentes tem sido muito positivo. É gratificante ouvir um “obrigado” ou um elogio ao invés do “estão a fazer a vossa obrigação”. Fazêmo-lo com gosto e ficamos satisfeitos quando percebem que para nós cada pessoa conta e que procuramos ir ao seu encontro», sublinha.

O coordenador quer, dentro de um ano, começar a dar os primeiros passos no sentido da passagem da USF de “A” para “B”, o que implicará uma maior autonomia, mais recursos «e um pequeno suplemento monetário» para todos os elementos da equipa. O médico reconhece que é bastante difícil, até porque o crivo está cada vez mais apertado, mas mostra-se confiante de que a sua equipa está à altura do desafio.

No final, questionado se a criação de uma USF é solução para a falta de médicos numa parte do concelho, Leonel Santos é taxativo: «Seria um risco muito grande para o coordenador da UCSP Porto de Mós propor-se fazer uma USF sem ter qualquer compromisso dos profissionais médicos que aqui estão, de que vêm para ficar». É que um dos segredos do sucesso de uma USF é ter uma equipa estável e coesa (embora o coordenador tenha autonomia para contratar ou dispensar pessoal a qualquer altura) e o problema é que em Porto de Mós há muito que faltam médicos e dos que chegam para ocupar os lugares vagos, raros são os que se fixam no concelho.

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