A Ur’Gente, associação de utentes de Porto de Mós, participou pela primeira vez, no passado sábado, dia 3 de junho, numa manifestação nacional para exigir o reforço de recursos humanos e investimento no Serviço Nacional de Saúde. Na marcha, convocada pelo Movimento + SNS, que saiu do Largo do Camões em direção à Assembleia da República, participaram centenas de pessoas, mais de 36 de Porto de Mós.
Embora seja uma associação local e, por isso, com uma «base territorial muito limitada», o presidente da Ur’gente, João Gabriel, reconhece que os problemas que se verificam na Saúde são transversais a todo o país e essa foi precisamente uma das razões que os levaram a associar-se ao protesto. «Decidimos juntar-nos a um movimento de cidadãos que está, no fundo, a fazer um apelo público ao Governo para que se resolvam os problemas da Saúde», explica. Esta manifestação surgiu depois de o movimento cívico ter lançado o manifesto “Pelo Direito à Saúde, Mais SNS”, já subscrito por mais de três mil pessoas e que mereceu o apoio da Ur’Gente: «Nós lutamos pelo direito ao acesso dos cuidados de saúde primários – essa é a nossa luta – e este movimento enquadra-se dentro desta forma de pensar e, portanto, propusemo-nos a assinar o manifesto».
João Gabriel considera que o momento em que a manifestação foi realizada não poderia ter sido mais oportuno, embora se mostre reticente com o rumo do setor Saúde em Portugal: «É um momento de viragem, com a criação dos novos modelos de gestão da saúde – as Unidades Locais de Saúde (ULS) – o que nos cria alguma expectativa mas, por outro lado, é também um momento de grande desesperança e desalento porque saíram agora os resultados dos concursos da colocação de médicos e, das cinco vagas para Porto de Mós, nem um médico apareceu. Continuamos apenas com três médicos aqui no centro de saúde, onde são precisos oito», refere, lembrando os «sete mil utentes sem médico de família» no concelho, o que equivale a «49% da população». Por isso, frisa, esta manifestação foi também uma forma de «gritar o desalento». «As perspetivas não são nada boas. Se, desta vez, em 900 médicos que eram necessários, concorreram cerca de 300, no próximo concurso talvez vão lá aparecer os mesmos mas entretanto saíram mais 600 que se reformaram. Isto está completamente descompensado. Eu temo, sinceramente, que um dia fiquemos sem médico nenhum em Porto de Mós», desabafa.
Sobre uma eventual reação à manifestação por parte do Governo, o presidente da Ur’Gente tem uma certeza: «Não vamos ser ouvidos como não fomos das vezes anteriores, porque quando não há médicos não há ouvidos que nos possam escutar». Porém, é precisamente esse desacreditar que dá a João Gabriel ainda mais forças para participar em iniciativas como esta. «Estamos num beco sem saída e tínhamos duas opções: ficávamos quietinhos e resignados ou íamos para a rua lutar por aquilo que é um direito que temos porque o Estado, como instituição, está a falhar», lamenta.
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