Começou na semana passada, em todo o país, a campanha de vacinação sazonal contra a COVID-19 e a gripe. À semelhança do que tem sido habitual, o processo vai realizar-se por faixa etária decrescente, priorizando também as pessoas com comorbilidades associadas. Assim, no início desta campanha, a prioridade serão as pessoas com 80 ou mais anos e as pessoas com doenças, referiu a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, na conferência de imprensa onde anunciou a data de arranque da campanha. A convocatória para o agendamento será feita como até aqui: via SMS ou por contacto telefónico mas, ao contrário do que acontecia, neste momento não está prevista a modalidade de “Casa Aberta”.
Desta vez – e esta é uma das novidades – vão ser utilizadas as vacinas adaptadas contra a COVID-19 contendo, além da estirpe original, a variante Ómicron. Porém, esta “nova vacina” apenas será administrada a quem já está vacinado com pelo menos duas doses. Quem ainda não completou o esquema primário de vacinação, ou seja, as duas doses iniciais será vacinado com as vacinas “originais”.
Em simultâneo, irá ocorrer a campanha de vacinação contra a gripe em que, pela primeira vez, será usada uma vacina de «dose elevada» com composição antigénica «quatro vezes superior à fórmula padrão», que lhe confere «eficácia superior».
Na apresentação da campanha de vacinação sazonal contra os dois vírus, Graça Freitas apelou à vacinação para prevenir a doença grave e a hospitalização, lembrando que todos «podem e devem» vacinar-se. O processo vai prolongar-se durante 100 dias, estando previsto terminar a 17 de dezembro. Ao longo deste período está prevista a vacinação de cerca de três milhões de pessoas.
Utentes disseram “sim” à convocatória
Com a desmobilização dos centros de vacinação, onde durante largos meses funcionou a vacinação contra a COVID-19, essa passa agora a ser feita exclusivamente nos centros de saúde. O Portomosense visitou, na tarde do passado sábado, o Centro de Saúde de Porto de Mós, onde encontrou um ambiente calmo, tranquilo e um processo a decorrer de forma ordeira. À medida que as pessoas iam chegando, eram encaminhadas para a respetiva sala para se proceder à inoculação, a que se seguia, como é hábito, o recobro com uma duração de 15 minutos. Após esse período, uma funcionária informava o utente que já tinha excedido o tempo necessário para aguardar e que poderia ir-se embora.
Tal como no ano passado, nesta campanha será possível receber duas vacinas ao mesmo tempo, contra a COVID-19 e contra a gripe, e essa foi, segundo pudemos observar, a decisão da maior parte dos utentes. E, aqui, o método de administração mantém-se inalterado: no braço esquerdo a da COVID-19 e a da gripe, no direito. Perante possíveis reações à vacina, as recomendações também se mantêm as mesmas: tomar um Ben-u-ron, no caso de haver dor, e pôr gelo, no caso de a zona inchar.
Todos os utentes com quem falámos tinham exatamente 56 anos e todos foram chamados não por causa da idade, mas porque tinham uma doença associada. Esmeralda Ferreira, residente no Bairro de São Miguel, foi uma das pessoas que respondeu “sim” à convocatória do Serviço Nacional de Saúde. Nem sequer hesitou, garante. Para esta prontidão na decisão contribuiu a experiência positiva das outras vezes e o receio das consequências que a doença possa ter em si. «Dizem que as pessoas que têm doenças têm de ter mais cuidado», frisa. Sentado na sala de recobro, Hélder Carvalho, da Ribeira de Baixo, admite que «nem pensou duas vezes» quando recebeu a convocatória. É diabético, uma doença que herdou e que se manifestou há dois anos, e considera «importante» as pessoas serem vacinadas para «ver se isto [a pandemia] pára».
João Vieira é de Porto de Mós mas está prestes a emigrar para a Irlanda, onde irá ficar durante uns meses. Antes de ir, quis-se prevenir. Assim que recebeu a SMS, respondeu «logo que sim». Tem diabetes há mais de uma década e, apesar de garantir nunca ter tido problemas, mostra-se cauteloso: «O dia de amanhã não se sabe».
Dos quatro testemunhos recolhidos, José Carlos Jordão é o único que não é diabético. Há quatro anos que sofre de colite ulcerosa, uma doença inflamatória crónica do intestino que afeta a camada mais interna da parede do cólon e do reto. Uma doença autoimune cuja origem os médicos não conseguem explicar. «O que dizem é que é o próprio corpo que se revolta contra ele mesmo», conta. «Se for medicado e vigiado não é por aqui que morro», atira. Ainda assim, não teve dúvidas quando recebeu a mensagem com a convocatória. Reconhece a eficácia da vacina, sobretudo depois de já ter tido COVID-19 e de tudo ter passado com «três Ben-u-ron». Se não fosse a vacina, acredita, a situação podia não se ter ficado apenas por sintomas ligeiros. «Podia ter sido complicado», afirma.
Fotos | Jéssica Silva