«Janeiras, lindas Janeiras/Já desde os tempos d’aldeia/Sois quais estrelas fagueiras/Em noites de lua cheia», o refrão do tema As Janeiras havia de ser a primeira a ser cantada e tocada, na noite do passado sábado, dia 18 de janeiro, no Largo Manuel Dias Justo, um dos locais mais emblemáticos onde a população mais se reúne para conviver e usufruir das Janeiras, uma festa que acontece todos os anos por esta altura em Mira de Aire. O itinerário que começou na Abrigo Familiar Casa S. José, pelas 19 horas, passou por 11 locais da vila e terminou no Largo da Igreja, num convívio que se prolongou noite dentro.
«Queremos tirar as pessoas do isolamento e pôr-nos todos em união. Queremos mostrar que há tradições que se devem manter e em que se juntam multidões de várias gerações», o desejo expresso por Andreia Leitão, pertencente à Comissão dos Quarentões de Mira de Aire, a entidade organizadora, dias antes da realização desta tradição anual, havia de ser cumprido nessa noite. Apesar do vento forte e da chuva que por vezes teimava em aparecer, as condições atmosféricas adversas não foram razão para demover as centenas de pessoas que por lá passaram.
Foi o caso de Sílvia e Vanessa Mendes, mãe e filha naturais de Mira de Aire, com 46 e 24 anos, respetivamente. Desde sempre que Vanessa Mendes se recorda de marcar presença nesta festa: «É engraçado porque nos juntamos todos nesta época. Andam pela vila a cantar as janeiras, a distribuir ginja, pão com chouriço, filhóses e café da avó», refere.
A mãe, recorda o ano em que foi “quarentona” e fez parte da Comissão: «Choveu muito, houve trovoada, faltou a luz e andámos todos com as lanternazinhas, o que estando escuro ficou mais bonito», confessa. Apesar de as condições climatéricas dificultarem a realização do evento, o cancelamento nunca foi uma opção: «Fizemos à mesma. Já estava tudo tratado, então teve que andar para a frente», conta.
Nessa noite, os cerca de «30 elementos» envolvidos, envergaram as tradicionais capas que este ano tiveram no rosa, a cor eleita. Muitas delas passaram pelas mãos de Clementina Rodrigues. Com 62 anos, explica que esta atividade é um «miminho» que decidiu fazer, uma decisão que, em parte, se deve ao facto de o filho, apesar de ser quarentão não conseguir marcar presença, dada sua morada atual ser nos Estados Unidos. A mirense recorda com alegria o tempo em que começou a marcar presença nesta tradição: «A primeira vez que andei envolvida nisto, o meu marido e os meus filhos faziam parte do grupo que tocava e, por isso, andava sempre a acompanhá-los. Daí comecei a ficar com um bichinho».
A corrida às 7 Maravilhas da Cultura Popular
«Achamos que é um evento que muito estimam e que junta milhares de pessoas, muitas delas de fora. Janeiras há muitas no país mas como as de Mira de Aire realmente não existem em muitos locais», sublinhou Andreia Leitão.
A peculiaridade da tradição “Vamos Cantar as Janeiras” cujo seu surgimento remonta a 1994 da Comissão de Festas em honra de Nossa Senhora do Amparo, levou a que o Município de Porto de Mós desafiasse a Comissão dos Quarentões de Mira de Aire a candidatar-se ao concurso das 7 Maravilhas da Cultura Popular na categoria “Festas e Feiras”. Um desafio que foi «abraçado» e que desde logo consideraram «super interessante». Hoje, as Janeiras de Mira de Aire estão na corrida deste concurso, cuja 1.ª fase de candidaturas termina no próximo dia 1 de março e em que vão ser selecionados os 21 candidatos por distrito ou Região Autónoma que mais se destacarem. Dividido por sete fases, a Gala Finalíssima está marcada para o dia 5 de setembro, num evento que será transmitido pela RTP e que irá contar com a votação do público.