Venha de lá o debate sobre o futuro da nossa terra
Ainda falta mais de meio ano para as eleições autárquicas, mas o processo já roda a grande velocidade. Em público, sabe-se pouco, em privado fala-se muito, e se as expectativas se vierem a confirmar, vamos voltar a ter umas eleições muito disputadas, com candidatos de peso. Em teoria, isso é bom, mas da teoria à prática vai uma boa distância. Sempre pecámos por falta de debate político e não acredito muito que as coisas mudem, porque as pessoas também são, no essencial, as mesmas desde há 10, 20 anos e até mais, e se são as mesmas, a tendência é para que repitam, ano após ano, o mesmo de sempre. Salve-se, então, o período eleitoral como o único ou quase único momento em que esta terra tem direito a um verdadeiro debate político, porque fora dele, infelizmente, e salvo raras e honrosas exceções, o que temos nos três anos seguintes é uma caricatura de discussão séria sobre o que é e o que queremos que venha a ser o concelho.
Tema sempre presente no discurso político autárquico é o das potencialidades do concelho em termos turísticos. Também aqui se fala muito, mas na passagem aos atos a coisa complica-se. Já temos diagnóstico, o apontar de soluções, passos dados e outros “em curso”, mas tardam os resultados, o empurrão público para que o privado comece também a fazer caminho. Numa situação ideal, não diria que a ordem devesse ser precisamente ao contrário, mas, pelo menos, que público e privado caminhassem ao mesmo ritmo e, de preferência, de mãos dadas. Vamos esperar para ver, aliás, essa tem sido muito a prática nos últimos 20 anos.
Mas porque temos que acreditar que as coisas mudam, é com otimismo que vejo surgir, embora ainda em estado embrionário, o projeto de criação de um geoparque na área do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC) ou até numa área geográfica mais vasta. Obviamente, não se trata de um projeto municipal, há mais seis municípios envolvidos, o próprio PNSAC e uma série de outras entidades. Contudo, tendo em conta que temos cerca de 70% do nosso território em área de parque natural, isso não nos é indiferente, até porque o objetivo dos promotores é que o geoparque abranja todo o território de cada município ou, pelo menos, que vá além das zonas que já integram a Área Protegida.
Em Portugal, existem, atualmente, cinco geoparques e há, pelo menos, mais dois em “gestação” e o que a realidade nos diz é que vale bem a pena a aposta. Os territórios fica mais valorizados e defendidos e o turismo deixa de ser o que sempre foi na nossa terra, uma potencialidade para se tornar algo concreto e em crescimento. E depois há o “carimbo” da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) sigla que vale muito e abre portas como ninguém a nível internacional, porque surge associada a uma ideia (e uma prática) de elevado rigor e exigência em termos de qualidade.
Esperemos então que os atuais autarcas ainda consigam avançar com a candidatura formal e que quem venha a seguir perceba a importância de dar continuidade ao projeto.
A encerrar, apenas uma nota de apreço: uma das entidades que mais empenhada está na criação de um geoparque é a ADSAICA, a Associação de Desenvolvimento das Serras de Aire e Candeeiros, entidade que junta os sete municípios do PNSAC, o ICNF e uma série de outras associações, e que é presidida pelo Munícipio de Porto de Mós. Quase moribunda há vários anos, assume-se agora como força motriz de vários projetos, e os autarcas portomosenses atuais e os que recentemente por lá passaram são merecedores de reconhecimento por esse facto.