Venha de lá o louvor
Porto de Mós homenageou há meia dúzia de dias muitos dos grupos profissionais e entidades que desde que a pandemia se estendeu ao nosso país nunca deixaram de trabalhar, fornecendo bens e serviços essenciais. Todo esse imenso grupo de pessoas e entidades pode agora dizer que em Porto de Mós, na sede de concelho, (e mais tarde em Lisboa) há uma praça que lhe foi dedicada em reconhecimento simbólico pelo papel, de maior ou menor dimensão, que teve em prol da comunidade, durante estes penosos meses, quem sabe anos até.
Em termos materiais, a homenagem não trouxe mais do que um peça de arte e também não era esperada outra coisa. No entanto, o gesto de gratidão e as palavras proferidas na altura pelos diversos oradores, esses sim, decerto, valeram ouro para os distinguidos e aqueles que ali estavam a representar.
Ora, à boleia desta cerimónia, penso que se podia ter aproveitado para homenagear, de forma particular, um grupo mais pequeno constituído por enfermeiros, médicos, assistentes operacionais e outros funcionários do Município, e bombeiros. Sim, os profissionais que dão a cara, mas também um imenso trabalho, pelo Centro de Vacinação de Porto de Mós, unidade que desde que iniciou a sua intensa e meritória atividade tem colecionado inúmeros elogios por parte da população em geral e o aplauso da classe política e autárquica concelhia, sem exceção.
A estes dedicados profissionais, muitos que até nem tinham ligação à área da Saúde, já ninguém consegue compensar as horas roubadas à família, os momentos únicos e irrepetíveis que deixaram de viver com os filhos de tenra idade ou adolescentes, também eles a passarem por uma fase desafiante das suas vidas. Mesmo que posteriormente possam ser recompensados pelas muitas horas que trabalharam a mais, aquilo que de material venham, eventualmente, a receber, será sempre pouco, porque há momentos na vida que não se repetem e há esforços que compensação material alguma consegue pagar. Resta, então, a melhor das compensações: a gratidão acompanhada do elogio sentido.
A minha opinião vale o que vale e não tenho intenção de pôr foice em seara alheia, no entanto, julgo que se na sociedade portomosense há um consenso de facto quanto à excelência do trabalho levado a cabo naquele Centro, então, quem representa a população tem o dever de passar das palavras aos atos. Parece-me que perante os rasgados elogios que com muita frequência se ouvem nas reuniões de Câmara e nas sessões da Assembleia Municipal a propósito deste assunto, e os abundantes agradecimentos que lemos nas redes sociais, é de elementar justiça que ambos os órgãos, de forma isolada ou, simbolicamente, em conjunto, aprovem um voto de louvor aos profissionais e às entidades a que pertencem.
Depois, há que lhe dar a devida publicidade nos canais próprios do Município e com o envio para a comunicação social. E porque sou grande adepto dos gestos simbólicos, penso que é elementar remeter para casa de cada uma das pessoas que se procurou homenagear cópia desse (eventual) louvor, para que mais tarde o possam mostrar aos filhos e netos e explicar, afinal, o porquê de alguns momentos em que estiveram ausentes ou menos presentes.
Naturalmente que O Portomosense e a Rádio Dom Fuas, se isso vier a acontecer, farão o devido eco desse reconhecimento como têm feito de tudo aquilo que de relevante se tem passado no nosso concelho desde que a pandemia cá chegou, cumprindo aquilo que, de forma imodesta, considero de verdadeiro serviço público. Temos a nobre missão de registar a história do concelho na altura em que está a acontecer de facto, mas claro, a par do exemplar do jornal, será bom que os homenageados possam ter também um documento que ateste, em termos oficiais, que em determinado momento das suas vidas foram alvo de reconhecimento público.
Por tudo aquilo que referi atrás, parece-me incontornável o voto de louvor e não ficaria nada mal também uma cerimónia de homenagem, mas uma vez que estamos a poucos meses de um ato eleitoral, talvez seja sensato optar por algo mais consensual. Também pelo mesmo motivo, julgo que qualquer documento que venha a ser submetido à aprovação da Câmara ou da Assembleia possa lá chegar já com o acordo prévio de todas as forças políticas aí representadas, porque lhe confere mais peso em termos simbólicos e ninguém terá a tentação de se vangloriar por um reconhecimento que espelha o sentir da maioria da população, se não de toda.