A associação Vertigem prepara-se para dar a cara por mais um projeto inovador no concelho. Trata-se do Centro de Interpretação do Medronho e do Mel (CIMM), que será instalado na antiga escola primária de Poço da Chainça, na freguesia de São Bento. Rui Cordeiro, o presidente da direção explica, a O Portomosense, que o CIMM é o corolário de um trabalho que já conta com alguns anos e que tem vindo a ser desenvolvido em várias frentes. «Queremos ajudar as pessoas a interpretar a floresta, com especial enfoque, neste caso, no medronheiro, uma planta espontânea da nossa área, bastante resiliente ao fogo, cujo fruto se dá relativamente bem num território com bastante humidade, como o nosso, e que tem também um valor económico interessante», explica. Já a apicultura será o ponto de partida para se falar da importância das abelhas para os alimentos, para a cadeia alimentar e para os ecossistemas. No entanto, à ecologia e educação ambiental, a Vertigem pretende unir mais duas vertentes: a economia e o turismo.
Rui Cordeiro e seus pares acreditam no aproveitamento sustentável daquilo que a Natureza tem para oferecer e, nesse sentido, pretendem dar a conhecer e estimular, mesmo que de forma indireta, o aparecimento de pequenos negócios que tenham o medronho e o mel como base, e o exemplo já o deram com a produção de aguardente de medronho (comercializada sob a marca M de Mós), licor de mel e fruta desidratada.
«Para alguns produtores, a venda para exportação pode ser uma boa aposta em termos futuros. A maioria das pessoas não saberá, mas o medronho que vai para o mercado escandinavo ronda os 10 euros o quilo, portanto é um valor a ter em conta», chama a atenção o responsável, acrescentando que, mesmo para quem queira uma abordagem mais artesanal, as oportunidades de negócio também existem. Tanto uma como outras não darão para enriquecer, mas certamente que podem vir a ser um complemento ao rendimento familiar, acredita.
Ao nível da apicultura, o mercado está mais desenvolvido havendo já uma oferta vasta e diversificada, mas, com este centro, a Vertigem quer ir mais longe e “desbravar caminho” a nível local. «Queremos trazer uma vertente do turismo que está a ter grande sucesso nalguns países da Europa e que em Portugal começa a dar os primeiros passos, o apiturismo. Em parceria com pequenos apicultores vamos procurar implementar visitas aos apiários incluindo na altura da cresta [operação de retirada do mel] e envolver a própria restauração e hotelaria criando um verdadeiro pacote turístico onde entrem a gastronomia e as apiterapias, como as massagens com mel», adianta.
CIMM prestará vários serviços à comunidade
A Vertigem quer ser parceira ativa da comunidade e, nesse sentido, o projeto do futuro CIMM prevê, entre outros, sala de extração para a apicultura, destilaria, a possibilidade de aluguer de vários equipamentos e serviços de consultoria e acompanhamento técnico para quem se queira dedicar à produção e/ou transformação de medronho, bem como quem tenha apiários em modo de produção biológica. Haverá também serviços de apoio à produção, sanidade e controlo de qualidade. Em suma, o CIMM não servirá apenas para ajudar os visitantes a interpretar a realidade e a importância do medronheiro e do medronho no conjunto da floresta local, assim como da apicultura na região, mas pretende vir a ser, também, fator de desenvolvimento local, disponibilizando aos produtores um conjunto de serviços e de ferramentas que os ajudem na sua atividade e presença no mercado.
De qualquer forma, sublinha Rui Cordeiro, tudo será feito em pequena escala e, no caso da Vertigem, «não se pense que por ter uma destilaria vai agora começar a produzir em doses industriais ou transformar o espaço numa loja de aguardentes. Não, a ideia é ter condições para prestar um serviço à comunidade e isso tanto serve para o pequeno produtor como para o cidadão comum». «Imagine, por exemplo, que apanha dois baldes de medronho no seu quintal e quer ter uma garrafa de aguardente com a sua fotografia. Vai lá [ao CIMM], leva o medronho, nós fazemos a fermentação e a destilação e entregamos-lhe a aguardente na garrafa com a imagem escolhida por si», exemplifica.
Por último, o dirigente associativo destaca outra das particularidades deste projeto: a ligação às escolas bem como à comunidade científica. Isso passará pelo acompanhamento de visitas de estudo, acolhimento de estágios curriculares e profissionais e protocolos com universidades para o desenvolvimento de projetos de investigação.