
Vidas em suspenso
Ano após ano, na manhã do Dia de Todos os Santos, centenas de crianças, movidas por uma grande dose de entusiasmo, saem de casa de saco de pano na mão, para ir bater às portas da vizinhança, com o objetivo de pedir o “Pão por Deus”: “Ó tia, dá bolinho?”, “Bolinhos em louvor de todos os santinhos”. Não fosse a pandemia e por esta altura, já estariam com borboletas na barriga despoletadas pela curiosidade de saber quais as oferendas que poderiam estar do lado de lá da porta. Apesar da tradição já estar enraizada na memória de muitas crianças, para outras este seria o primeiro ano em que teriam essa oportunidade. No entanto, este ano, face à atual situação epidemiológica e tendo em conta as características do “Dia do Bolinho”, não irá acontecer nos moldes de sempre. Por isso, o Município de Porto de Mós, aconselhou «a não concentração de pessoas na via pública» nesse dia de forma a evitar um aumento da disseminação da COVID-19. Apesar de não existir proibição, o tempo é de contenção e a probabilidade é de que os pais de muitas crianças optem por decidir mantê-las em casa.
Além do vírus já ter ceifado milhares de vidas, parece que teima também em acabar com as tradições, no entanto, a minha esperança é de que o “inimigo invisível” não leve a sua avante e que para o ano, os sacos das milhares de crianças que em 2020, por culpa das circunstâncias, ficaram em casa, se encham de guloseimas. E que a 1 de novembro de 2021, os familiares dessas crianças se sentem à sua beira para contar o número de doces arrecadados e, quase como que numa nostalgia, recordem “o ano mau” que finalmente se extinguiu. Seria um bom sinal.