Valéria Pessegueiro é enfermeira veterinária e, a par de Pedro Cavaca Caetano, uma das responsáveis por todo o trabalho desenvolvido no Centro de Recolha Oficial de Animais de Companhia. Além de um funcionário da Câmara, que todas as manhãs ajuda na limpeza das boxes dos cães, é nos voluntários que Valéria Pessegueiro encontra a ajuda de que precisa para manter todo o espaço a funcionar nas melhores condições. «Os voluntários ajudam nas limpezas, principalmente dos gatos, e a socializar os animais, passeiam-nos, soltam-nos no parque e brincam com eles…», explica.
Devido à COVID-19, não têm mais do que dois voluntários por dia. No total, a ajudarem regularmente, são 10 as pessoas que, com periodicidades diferentes consoante a sua disponibilidade, se deslocam à Área de Localização Empresarial de Porto de Mós, onde está instalado o canil/gatil, para estar com os animais. Além destes, há um grupo mais alargado cuja disponibilidade não lhes permite estar tão presente, havendo bastantes interessados no voluntariado ao final do dia e ao fim de semana.
Isabel Martins, de 63 anos, natural de Lisboa mas a viver na Fonte do Oleiro, é uma das pessoas que regularmente pode ser vista a «dar mimo» aos cães e aos gatos. A sua história com os animais começou quando enviuvou e, depois de mergulhada numa «grande depressão» foi aconselhada pelo médico a ter um animal de companhia. Dirigiu-se então a um canil e foi com uma cadela, que a acompanhou durante 14 anos, que ultrapassou a doença. Agora tem «três cães e quatro gatos em casa» e afirma que dá «muito mimo e carinho» aos que estão no canil/gatil.
Antes de morar em Porto de Mós, o voluntariado já fazia parte da sua vida, ainda que em nada estivesse ligado aos animais. No entanto, considera que «ficou o bichinho» e ao chegar procurou as associações onde poderia ser mais útil. Foi na Marinha Grande, junto da Casa Esperanza e da Associação Protetora de Animais da Marinha Grande, que encontrou o seu lugar. Depois, «quando soube que iam abrir aqui o canil, foi logo uma opção que eu tomei», adianta.
Contou a O Portomosense que, no dia anterior ao nosso encontro, havia passado duas horas da sua manhã a passear os cães e, depois, «como os gatos já estavam tratados», foi apenas «fazer festinhas e estar com eles um bocadinho». Quando terminou o seu “serviço”, diz ter-se sentido «como se tivesse bebido um shot de energia»: «As pessoas nem imaginam, para quem gosta, o que é de bom, de tranquilizador, o que nos faz bem. Levamos daqui muito mais do que aquilo que damos. Eles dão-nos muito mais a nível de emoção, de paz, não sei explicar, só quem faz isto é que sente», afirma, acrescentando que esta atividade é também uma forma de ocupar o seu tempo e «desanuviar a cabeça».
Ilda Veríssimo tem 55 anos e é natural da Ribeira de Cima. É voluntária no canil/gatil juntamente com a filha, desde a inauguração do espaço. Diz gostar muito de animais e que «quando soube que ia abrir o canil», ficou «super feliz porque andam por aí tantos animais abandonados e sempre será um acolhimento», refere.
Inicialmente vinha todos os dias da semana, mas depois o tempo passou a ser difícil de gerir e é num grupo de Whatsapp, com o nome Super Voluntários, que se organizam para garantir que o trabalho será assegurado: «Coordenamo-nos para que a Valéria não esteja sozinha e para que os animais tenham sempre alguém para lhes dar carinho, atenção, para brincar e para socializar que acho que lhes faz muita falta», explica. Quando chega, assim como todos os voluntários, não «escolhe trabalho»: «Fazemos o que for preciso, é para isso que cá estamos», revela.
De portas abertas para mais voluntários
Quem quiser ser voluntário precisa apenas de se dirigir ao espaço e falar com um dos responsáveis ou enviar um e-mail a mostrar a sua disponibilidade. No entanto, Pedro Cavaca Caetano afirma que gostam «sempre de falar com as pessoas». «É diferente estarem em casa delas, onde estão habituadas a lidar com um cão que é seu. Aqui são cães abandonados, alguns agressivos e por isso temos que conhecer o tipo de pessoas para saber se têm condições para trabalhar com cães destes que, por vezes, são imprevisíveis», frisa.
Até aqui, os voluntários não têm nenhuma formação específica e são apenas acompanhados quer pelo veterinário, quer pela enfermeira, todavia a ideia é passar a ter formação. «Temos um projeto que está em fase de negociação com a Câmara, para virem duas pessoas credenciadas em ensinar cães, fazer uns cursos, não apenas para voluntários, mas para pessoas do concelho que queiram aprender a ir à rua com o seu cão, saber andar com ele…», explica o médico veterinário. Mais uma vez, tudo está dependente da evolução da pandemia para avançar.
Associação para trabalhar em interligação com o canil seria “ideal”
O veterinário municipal, Pedro Cavaca Caetano, considera que «era conveniente haver uma associação no concelho» com quem pudesse «trabalhar em conjunto»: «Depois de os animais serem tratados e vacinados, seriam dados para essa associação, que depois poderia fazer [coordenar] as suas adoções e ter horários diferentes para os voluntários. Isto é um edifício municipal, não é um centro de recreio, por ser um centro de recolha oficial, tem regras muito específicas e é muito difícil», começa por dizer. E explica: «Devia haver uma associação paralela que pudesse complementar o nosso trabalho. Os animais resgatados teriam que vir sempre para aqui, mas depois seriam encaminhados para a associação que podia criar parques onde eles ficassem, uma vez que num canil municipal, a lotação é estabelecida por lei. Vêm cães quase todas as semanas, têm de ser introduzidos na matilha e não podem ser muitos ao mesmo tempo, porque muitas vezes o grupo está bem, mas ao introduzir um novo animal, desestabiliza tudo». A ideia era que essa associação, ao funcionar de forma independente, pudesse trabalhar em estreita ligação com o canil, receber os voluntários que têm disponibilidade em horas que para o canil são impraticáveis e tratar do processo de adoção [com quem procura o Centro para adotar um animal].