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“Xico dos Cabritos”: quando a alcunha vira nome próprio

17 Setembro 2019
Jéssica Moás de Sá

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Jéssica Moás de Sá

17 Set, 2019

Francisco Amado, nome de registo civil, já não é o nome que identifica, por onde passe, o comerciante de gado do Arrimal. Todos conhecem Francisco Amado por “Xico dos cabritos”, alcunha que surgiu, garante Xico, há «mais de 30 anos». Em 54 anos de vida, 48 foram passados «a lidar com os animais» por ter nascido no seio de uma família que já fazia da comercialização de gado a sua forma de sustento. Mas foi há «cerca de 38 anos» que a produção e venda de animais passou a ser a vida profissional de Francisco Amado.

O comerciante tem sete irmãos, quatro deles seguiram caminhos opostos. Xico foi um dos três que abraçou esta atividade, sem nunca ter sido uma imposição da família, «eu não tirei curso porque não quis, foi uma escolha minha e não estou arrependido».

Tudo o que construiu neste ramo «foi sozinho», motivo de reflexão para Xico: «às vezes penso como é que eu fiz isto tudo, hoje é tudo meu». Confessa que o percurso não foi fácil, quando casou e comprou uma vivenda, sem pedir empréstimo ao banco, ficou «a dever a empreiteiros, eletricistas, carpinteiros» mas depois conseguiu «pagar tudo à medida que o negócio desenvolveu».

Xico comercializa «cabritos, borregos, vitelas, burros, galinhas, coelhos e até ovos» e garante que da sua máxima faz parte «vender apenas o que tem qualidade, se não tiver qualidade não se vende». Os animais são alimentados apenas com «erva e ração», explica Xico que lembra que «há quem trabalhe com hormonas» mas que em sua casa «é tudo natural e puro». Esta qualidade «não é valorizada por 90% das pessoas porque há muita gente que nunca comeu carne boa, não conhece», considera o produtor.

Atualmente o mercado está diferente daquele com que se deparou quando se iniciou neste mundo. O comerciante reconhece que atualmente «há poucos animais» e menos trabalho diário. «Antes havia mercados e feiras e todos os dias eu ia para um mercado diferente e vendia tudo todos os dias», por outro lado, hoje, há noites em que Xico confessa deitar-se com a pergunta «amanhã vou fazer o quê?». Esta incerteza que o negócio lhe provoca, não foi, no entanto, um incentivo para abandonar o ramo. «Isto é o que eu sei, é do que vivo e gosto muito do que faço», garante o produtor, que, entre risos, acrescenta, «são tantos anos disto que se eu olhar para um cabrito, só de olhar, sei quanto pesa. A minha balança são as mãos».

O orgulho de Xico fica manifesto quando questionado sobre se tem clientes fiéis: «tenho clientes fiéis há mais de 30 anos que quando querem comprar só dizem o que querem e o dia, não precisam de ver, confiam em mim». Acredita que na região e sobretudo em Arrimal se destaca «por ter das melhores explorações de animais», algo que é reconhecido «as pessoas sabem que vendo qualidade», conclui “Xico dos cabritos”.

Amor ao gado é partilhado pela família

“João dos Cabritos” – alguma semelhança com “Xico dos cabritos” não é pura coincidência. Francisco Amado já conseguiu deixar o legado e a alcunha, para já, a um dos seus filhos. Dos três que o comerciante tem, apenas a filha mais velha não lhe está a seguir as pisadas. O filho do meio, de 25 anos, “João dos Cabritos”, já tem o seu próprio negócio de comércio animal e o filho mais novo, além de ajudar o pai na atividade, está a tirar um curso profissional relacionado com esta área na Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Alcobaça, para «quando tirar a carta comprar uma carrinha e começar a vender», conta o pai.

Xico confessa que esta vida o obrigou a abdicar, por vezes, de tempo com a família porque, lembra, «o problema de criar animais é que os animais comem no dia de Natal, na Páscoa, no Carnaval. Os animais não vão para as festas», exigindo um cuidado permanente. Mas a família percebeu sempre e apoiou o trabalho do comerciante, sobretudo a mulher que foi sempre «uma grande ajuda».

O produtor prevê sorte para os filhos na atividade, porque acredita que o período menos próspero «faz parte de um ciclo que habitualmente muda a cada 20 anos». Na altura que começou, Xico diz ter «apanhado anos bons», que aproveitou. Daqui a uns anos, «a concorrência vai ser pouca e os que estiverem no ramo vão conseguir sobressair», espera o comerciante.

Independentemente do que o futuro reserve, Xico já deixou, nos dois montes que possui, uma homenagem à familia Amado. O Monte de São Francisco junta o nome da sua mulher, conhecida por São, ao seu nome próprio, Francisco. Já o Monte dos Três Manos é dedicado aos três filhos que Xico tem.

Recentemente, juntou-se um novo membro à família, o primeiro neto de Xico, que garante que enquanto «for vivo», o neto «só vai comer carne de qualidade». E, se os genes continuarem a surtir efeito, um dia será o neto de “Xico dos cabritos” a comprar e a vender o gado.

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