2025 e a Europa parou

10 Janeiro 2025

O início do ano é a altura por excelência para se fazerem análises e projeções. Tal como cada ano tem sempre os seus desafios e especificidades, 2025 não será diferente!

A conjuntura económica global e europeia impactam diretamente a economia portuguesa, que é altamente dependente das economias mais fortes, como a Alemã e Francesa que vivem pressão económica e política. O Reino Unido está também preso num cenário de estagflação (baixo ou nulo crescimento, desemprego elevado e elevada inflação).

O setor produtivo/industrial europeu, arrastado pela queda alemã, uma economia colada à descida do setor automóvel (com impacto direto no setor dos moldes da nossa zona), pela falta de reformas, os elevados custos de energia na europa e a burocracia desmedida que gera elevados custos de contexto às empresas europeias e a elevada competitividade da China (o maior produtor automóvel do mundo) são fatores que se combinam para condicionar os próximos anos no velho continente.

Localmente impacto já se sente no setor dos moldes da Marinha Grande e concelhos próximos (onde se inclui Porto de Mós). Muitas empresas manifestam há algum tempo dificuldades no acesso ao mercado. A maioria das empresas da região é fornecedora do setor automóvel europeu, sobretudo alemão e francês, que estão a passar por grandes dificuldades, pelo que o impacto local é direto. Veja-se a Volkswagen por exemplo que provavelmente vai fechar várias fábricas na Europa e despedir 30 mil pessoas. A quebra nas vendas e a deficiente transição para os veículos eléctricos são as principais causas para esta reestruturação. O Grupo Stellantis (Peugeot-Citroen) também evidencia dificuldades, tem estas mesmo provocado a saída do português Carlos Tavares de CEO da empresa.

O setor automóvel é dominado atualmente a nível global pelos fabricantes chineses, que já competem muito além do preço. Não só são altamente inovadores, como estão vários anos à frente da Europa na transição e mobilidade elétrica e têm elevada capacidade de produção.

Grafico Producao Automovel | Jornal O Portomosense

Passando para fatores políticos, também a eleição de Donald Trump e a implementação de políticas protecionistas como a potencial aplicação de tarifas de importação a produtos “não-EUA” tem potencial impacto direto na Europa e no seu setor industrial. Importa também considerar neste campo o conflito armado no médio oriente.

Ao mesmo tempo, e relacionado com estes e outros problemas, a instabilidade política que se vem instalando na Europa, como a queda do governo francês, a instabilidade alemã, a ascensão da extrema direita populista, o conflito armado com a Rússia e a reconfiguração da NATO obrigarão a União Europeia a esforços acrescidos no campo da segurança e defesa.

Em termos de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), a OCDE prevê para a área Euro um crescimento real de 1.7% para 2025, que sendo melhor que os 0.8% previstos para 2024, estão longe dos 4.7% da China e dos 2.4% dos EUA.

Projecoes PIB Mundial | Jornal O Portomosense

Cá dentro, o sempre otimista Banco de Portugal (BdP) prevê um crescimento de 1.6% para 2024 e 2.1% para 2025. Há boas notícias no que respeita à evolução dos preços dos bens de consumo, o Índice harmonizado de preços no consumidor atingiu 5.3% em 2023, prevê-se que ronde os 2.6% em 2024 e o BdP aponta para 2% (objetivo de inflação da União Europeia). É expectativa do BdP que a descida das taxas de juro e as entradas de fundos europeus alavanquem maior investimento, com contributo positivo para o crescimento do PIB.

BdP investimento 2025 | Jornal O Portomosense

Facto inegável é que, por opção política, a Europa está a ficar para trás no setor industrial/produtivo. A reconfiguração económica e a descentralização das fábricas para a Ásia iniciada nos anos 90 do século passado, na procura por baixos custos de produção, provocou um desenvolvimento e crescimento significativo destes setores naquela região. Estes países são agora especialistas e dominam o know-how e tecnologia de produção. Hoje o “Made in China” não representa apenas produtos de baixo valor/preço. Representa também inovação e liderança (o setor automóvel como atrás mencionei é o melhor exemplo).

Os desafios globais criam dificuldades locais às populações de cada país. E cada país, tem obrigação de criar as melhores condições para competir na economia global.

Portugal tem que criar condições para atrair investimento estrangeiro, que potencie a criação e desenvolvimento de novas e maiores empresas. Isso só se consegue com condições fiscais atrativas (baixo IRC), remoção de barreiras burocráticas à criação de empresas e sistemas de incentivos ao investimento. E nestes campos, temos ainda muito a fazer e um longo caminho a percorrer.

Começamos um novo ano com uma Europa amorfa, parada, com líderes fracos e sem capacidade de inovação na apresentação de soluções para responder às necessidades das populações.

Estamos em 2025 e a Europa parou!