50 anos depois. Finalmente fez-se justiça

20 Dezembro 2024

TomadadepossedoVIGovernoProvisorioemsetembrode1975 | Jornal O Portomosense

Parabéns à Câmara Municipal de Porto de Mós, ao Dr. Kevin Carreira e colaboradores, pela iniciativa de terem levado até à Quinta de Ezequiel Poças em Rio Alcaide um evento relacionado com Abril. Durante o “Verão Quente 75” vi-me delegado à Assembleia do MFA, pela minha Unidade. Éramos seis nessa condição: O comandante por inerência de cargo, um oficial por direito próprio (nato) e quatro eleitos nas Assembleias da Unidade. Representávamos quase 2 000 homens do G. nº 1 Escolas da Armada em V. F. de Xira.

A nossa missão era levar as preocupações dos camaradas da nossa Unidade em torno dos seus problemas, os dos seus vizinhos e familiares, andamento nas Comissões de Moradores, de Bairro e de trabalhadores, incidentes militares e civis, etc. etc. De lá trazíamos as opiniões dos altos dirigentes e também das Comissões de Dinamização, denúncias acerca de redes bombistas, golpadas, caciquismo etc. Era o pulsar da Revolução.

Encontrava-me lá com o nosso conterrâneo almirante Victor Crespo. Eu tinha conhecimento duma reunião do Movimento dos Capitães em 1973 em Porto de Mós. Num desses encontros perguntei-lhe se essa reunião tinha sido em sua casa. Estávamos em 1975. Ele disse-me que não. Acrescentou que tinha havido, isso sim, uma reunião em sua casa no Restelo, no início de 1974 e não tinha sido dos capitães porque a Armada não tinha o problema deles. Acrescentou que no início de 1974 a contestação militar já entrava, manifestamente, na esfera política e aí alguns militares da Armada convergiram no movimento contestatário do Exército.

Lembro que o primeiro contacto foi com o fuzileiro Costa Correia, e meu amigo, atualmente Capitão-de-mar-e Guerra. Assim alguns marinheiros em conjunto com os dois movimentos de capitães chegaram ao programa do MFA (Movimento das Forças Armadas). O “nosso” almirante não tinha conhecimento da realização dessa reunião na sua terra. Por outro lado, quando eu abordava este assunto junto de amigos em Porto de Mós diziam-me que tinha sido em casa do almirante, frente ao edifício da Câmara, outros que não sabiam onde e outros ainda que desconheciam. Continuei procurando sem pressas, nos registos, nos testemunhos de “Espúrios” e junto de amigos.

Pelo caminho encontrei dois intervenientes nessa reunião. Os Coronéis Victor Manuel da Silva Carvalho e Alberto Ferreira. Fomos trocando algumas informações. Encaixei os dados colhidos e inclui essa informação nas páginas 195, 196 e 197 do livro que escrevi em 2015 “Vivências de uma Geração” (Acessível na Biblioteca de Porto de Mós). Mesmo assim, quando eu abordo este assunto junto dos portomosenses, verifico um desconhecimento quase total.

Penso ter dado algumas explicações para esse facto no meu texto das páginas 224 à 241 do livro “Liberdade Democracia e Participação”, publicado agora pela autarquia e oportunamente lançado na referida quinta. Ao longo destes 50 anos, mesmo alguns responsáveis locais antigos e novos, nada sabiam desse evento. Nesse mesmo período, e em contrapartida, fizeram-se, e registaram-se aqui e ali, algumas afirmações falsas em torno de Abril.

Bem-haja Câmara Municipal de Porto de Mós.