Quando o tempo se esgota…

24 Março 2025

Vivemos numa espécie de ilusão coletiva, onde acreditamos que o tempo joga sempre a nosso favor. Que os problemas, por mais evidentes que sejam, podem ser adiados, contornados, empurrados para a frente como se o futuro fosse uma extensão infinita do presente. Mas há áreas onde essa ilusão se desfaz da pior maneira. A emergência pré-hospitalar é uma delas.

Aqui, a diferença entre urgência e emergência não é apenas uma questão semântica. Uma urgência pode esperar, pode ser estudada, pode ser debatida em comissões e reuniões. Uma emergência, por outro lado, não se compadece com burocracias nem com decisões tardias. Não pode esperar. Ela exige uma resposta imediata. Eficaz, precisa e sem hesitações.

E é aqui que reside o grande paradoxo. Sabemos o que deve ser feito. Sabemos que mais formação salva vidas. Que mais desfibrilhadores em locais estratégicos fazem a diferença entre a vida e a morte. Que comunidades preparadas são o primeiro elo da cadeia de sobrevivência. Sabemos tudo isto. E, no entanto, continuamos a agir como se o conhecimento por si só, bastasse.

A questão nunca foi a falta de informação. Não há desculpa para o desconhecimento em 2025. O verdadeiro problema está na falta de compromisso para com a mudança. Há quem prefira acreditar que o que foi suficiente ontem continuará a sê-lo amanhã. Que não é preciso melhorar, adaptar, investir. Que se pode adiar. Que é possível manter tudo igual sem que, um dia, isso nos seja cobrado.
Mas o tempo não perdoa. Nem o tempo, nem os números. Um enfarte não espera por orçamentos futuros. Uma paragem cardiorrespiratória não aguarda mudanças políticas. Um acidente grave não se ajusta a calendários administrativos. Um diabético sem uma bebida açucarada não recupera com um despacho. E, quando a emergência acontece, repetem-se os mesmos discursos, as mesmas lamentações previsíveis: “Não sabíamos que estava assim”, “Confiávamos que o sistema ia funcionar”, “Fizemos o possível”.

Mas será que foi mesmo o possível? Ou apenas o mínimo necessário para evitar grandes perguntas?
A emergência não vive de milagres. Não vive de autocracias. Vive de equipas e de liderança. Vive de planeamento, de adaptação, de evolução assertiva, de valores, de visão e de capacidade de antecipação. Não se trata de prever o imprevisível, de “se’s”, mas sim de garantir que, quando o tempo se esgota, não ficamos apenas com as mãos vazias e um rol de desculpas para justificar o que não fizemos.

O mundo avança. A história tende a ser inflexível com aqueles que recusam acompanhá-la. E a pergunta que fica, inevitavelmente, é esta: quando o futuro nos bater à porta, estaremos preparados ou ficaremos, uma vez mais, a lamentar o tempo que perdemos?