«Se a felicidade é feita de pequenas coisas, desejo-te uma vida cheia de coisinhas», li algures. E acho que as crianças são a maior prova de que a felicidade está, de facto, nas pequenas coisas. Neste jornal temos dois exemplos disso mesmo. Uma delas é a melhoria do recreio da escola da Calvaria de Cima, levada a cabo pelos pais dos alunos. Segundo nos explicou a presidente da Associação de Pais, não se tratou de facto de uma obra, no sentido de construção de infraestruturas ou de arranjo das mesmas. O recreio tem exatamente o mesmo tamanho, está exatamente no mesmo sítio e o que se fez foram pinturas para delinear cada um dos espaços, um campo de futebol, um jogo da macaca… E as crianças deliraram, ficaram em êxtase e, exatamente no mesmo espaço, que antes gerava confusão por uns quererem brincar a uma coisa e outros a outra, agora são todos mais felizes e brincam de forma mais ordenada. Se isto não é ser feliz com as pequenas coisas, não sei o que será. Este exemplo é também a prova de que, às vezes, não é preciso gastar “mundos e fundos” para satisfazer as vontades, desejos ou anseios das nossas crianças – e até dos adultos –, por vezes, com tão pouco se faz tanto.
Outro bom exemplo disto mesmo foi a visita – ou o resultado dela – dos alunos do 4.º ano do Centro Escolar de Pedreiras às instalações da Cincup, e consequentemente à redação d’O Portomosense e aos estúdios da Rádio Dom Fuas. Com objetivos traçados ainda em sala de aula, traziam tarefas a cumprir, mas passada essa parte, foi tempo de “esbugalhar” os olhos curiosos e querer perceber tudo, querer saber tudo, querer perguntar tudo e questionar as respostas, como é tão típico das crianças. Arrisco dizer que foi, para eles, uma manhã bem passada. O feedback chegou depois pela voz da professora: “Vinham encantados!”. Acabados de sair de uma visita à KidZania, um parque temática onde puderam experimentar várias profissões, e onde tinham visto estúdios de rádio e de televisão e onde até tinham simulado uma capa do jornal Expresso, deram aqui de caras com uma realidade bem mais pequena, mas mais real. E tiveram a consciência disso. Sim, não achemos que as crianças não percebem. Se adaptarmos a linguagem e usarmos o tom certo, nada lhes passa ao lado. E foi isso mesmo que aconteceu aqui.
Não sabemos, não temos forma de saber por quanto tempo irão lembrar-se do que aqui se passou. Não podemos sequer saber ao certo o valor que deram à visita, para além da experiência do momento, tudo isso depende dos valores de cada um, daquilo a que dão ou não importância e até mesmo dos interesses pessoais. Porém acho que podemos dizer, com alguma segurança, que tiveram uma manhã feliz, mais que não seja pela alegria da primeira vez.
E nós, adultos, ainda podemos sentir a felicidade das pequenas coisas? Ainda fazemos coisas pela primeira vez? Ainda nos desafiamos a experimentar algo em que nunca tínhamos pensado? Valorizamos as pequenas coisas? Sabemos o que são? Ou chamamos-lhe coincidências, banalidades, quotidiano? As crianças têm sempre tanto para nos ensinar, basta que ativemos o olhar de aprendizes. (Re)Aprendamos com elas a ser felizes com pormenores e os nossos dias serão, com certeza, mais luminosos.