Estamos a encerrar o ciclo das comemorações do Cinquentenário do 25 de Abril. Sem pretensiosismo, permitam-me um breve balanço das mesmas.
Numa síntese muito pessoal e fugindo àquela “frase feita” e tanta vez referida de que os objectivos de Abril não foram concretizados, vejamos apenas: O movimento das Forças Armadas (MFA) assentava em três pilares, conhecido pelos três D’s – Descolonização, Democratização e Desenvolvimento.
Descolonização – Encerrada em finais de 75 à excepção de Timor Leste. Em Abril de 74 havia cerca de 150 000 militares no Ultramar onde, durante os cerca de 15 anos de conflito, morreram mais de 10 000 jovens e vários milhares de incapacitados.
Democratização – Ponto de partida do 25 de Abril, seguindo-se a aprovação da Constituição da República em 2 de Abril de 76. Eleições livres para a Assembleia da República em 25 de Abril de 76. Em Abril de 74 eliminada a polícia Política PIDE-DGS que tudo controlava subtraindo a liberdade de pensamento e de expressão.
Desenvolvimento – Processo inacabado (seria mau se assim não fosse). Vejamos apenas alguns indicadores da década de 70: Taxa de analfabetismo rondava os 30%, passando actualmente para 3%. Morriam 77 crianças em cada 1 000 antes do primeiro ano de vida passando actualmente para 2,6 em cada 1 000. Morriam 115 mulheres em cada 100 000 devido a gravidez, passando para 8 em 2021. Em 1960, 72% das mulheres não tinham qualquer nível de escolaridade, actualmente são o maior número de universitários. Maioria do povo Português vivia em pobreza acentuada. Quase inexistência de infra-estruturas básicas que, graças ao poder Autárquico foram implementadas e colocadas ao serviço das populações. Muitos outros dados poderiam ser referidos, mas estes chegam para suportar o meu pensamento.
Então, e as comemorações, que dizer? Para mim e seguindo o meu raciocínio pergunto: Onde estão ou estiveram ao longo deste ano aqueles que não sentiram na pele a ditadura. Aqueles que crescendo em Democracia, esta foi-lhes dada como um dado adquirido, não havendo lugar a lições a tirar porque era um passado encerrado. Será que não queriam transportar-se por umas horas ao passado recordando aqueles que foram os protagonistas da revolução histórica de Abril de 74, que venceram medo, que recuperaram a dignidade humana em toda a sua grandeza e em todas as nuances?
Uma reflexão para finalizar sendo aqui que eu queria chegar: Jovens da idade dos meus filhos e dos meus netos, o mundo 50 anos depois dá-nos sinais de grande preocupação.
As conquistas de Abril parecem estar ameaçadas. Os sinais a que diariamente assistimos não são animadores, tanto internamente como a nível internacional. Não nos esqueçamos que a 1 de Setembro de 1939 Hitler deu início à Segunda Guerra Mundial ocupando a Polónia. Serão pois, vocês jovens, que deverão estar atentos. Será a vossa geração a usufruir ou não de um legado que nós, os mais velhos, vos deixamos.
Não esqueçam ABRIL, estejam presentes. Liberdade não é decididamente dado adquirido.