Cortesia a uma Fatia

16 Dezembro 2024

Mais um ano, uma nova temporada invernal e, mais uma vez, a bater com os dedos da mão na parede porque ganharam a cor da “morte”. Adorava estar a brincar com vocês, mas não brinco. Eu apenas costumo fazer, de vez em quando, cócegas à minha mãe. Para quem desconhece, eu incluo-me no grupo de pessoas que sofre de um “fenómeno” – vejam bem a minha raridade –, chamado Raynaud, onde, a baixíssimas temperaturas, se perde a circulação nos dedos e eles ficam brancos ou, em casos extremos, roxos. Por agora, ainda estou no patamar dos dedos com tons de cal. E, com Mercúrio Retrógrado a girar do meu lado, tenho pensado em maneiras diferentes de me manter quentinha. Como o corpo queima mais calorias durante o tempo frio, que tal eu ingerir ainda mais calorias para equilibrar? Aplicando a matemática básica da rapariga comum, isto faz todo o sentido. Assim mais razões me dão para continuar com a minha alimentação açucarada. Obrigada, Pai Natal.

Mas este pequeno texto serve para trazer um poema que há muito tinha escrito, nos tempos em que comia palhacinhos ao pequeno-almoço e me achava com uma graça incomum. Fiquem com um pequeno tributo a bolos verdes que, apesar de gostar imenso, o que me apetecia mesmo naquele dia era bolo de chocolate.

Ainda me lembro dia,
em que estava a cortar
do bolo uma fatia
e, sem querer, deixei-a cair.
Prós braços da Maria fui chorar,
pois ainda desconhecia
a tamanha agonia,
que aquela morte me iria dar.

Ainda me lembro do dia,
em que estava sozinha
ao pé da pobre fatia,
d e s f e i t a
no chão.

Para a esquerda olhei
ninguém vi.
Para a direita me virei
vi ninguém.
E num gesto veloz em agarrar
a fatia fui apanhar
e, sem cuidado, na boca a meti.
Ó! O quanto me arrependi.
Aquela fatia logo cuspi
pois, quando na língua a senti
percebi que o bolo,
era feito de couve.

E nesse dia percebi
que por momentos me esqueci
que a minha tia
fazer bolos, nunca soube.

Ainda me lembro do dia,
em que comi uma fatia
e no fim,
a cuspia.