As redes sociais são um verdadeiro mundo de mundos e nelas podemos encontrar praticamente tudo aquilo que queremos, mas também o que nem sequer pedimos. E eu não tenho pedido, propriamente, para ser bombardeado todos os dias, e a toda a hora, com conteúdos duvidosos centrados na anti-imigração, na homofobia, no machismo e na bajulação a partidos das extremas. Então, senhores dos algoritmos, podiam fazer o obséquio de me tirar aquilo da frente? É que se consideram engagement o par de cliques que se faz na tentativa de bloquear ou dizer “não interessado” nos ditos cujos, esta batalha fica-me perdida ainda antes de começar.
Mas enfim. Falando de mundos, passo para o mundo real. Um mundo que cada vez mais se parece com aquele que se vislumbra enquanto se vai tateando de madrugada um smartphone, num claro sinal de que a sociedade vai de facto ficando influenciada pelos tais influencers de taberna. E porquê? Porque cada vez mais se tornou comum ouvir por aí discursos de ódio. Ódio contra imigrantes, ódio contra homossexuais, ódio contra tudo e mais um par de botas. Começamos a perder a noção de tolerância e regredimos enquanto civilização, tornando-nos tacanhos e sempre de arma em riste, prontos para fazer de todo o caso específico uma generalidade e uma verdade absoluta.
“Era mandá-los todos para a terra deles, que só nos vêm roubar o trabalho”, dizem uns. “É fechar as fronteiras enquanto é tempo porque estamos a ser substituídos”, gritam outros. “E mulheres? Cozinha com elas. A gente, homens com H grande, é que as devemos sustentar e proteger. Cuidem da casa e dos filhos e vejam lá se ficam em casa nos dias D, ou não vão elas, toldadas pela sua natureza mais emotiva, votar em quem só abre as portas à escumalha”.
Estas podiam perfeitamente ser frases repescadas da mais insalubre das tavernas deste país nos tempos da outra senhora, mas o que é facto é que agora são novamente ditas alto e bom som por miúdos com dois pares de pelos na face… Preocupante.
Mas o exercício sociológico para tentar compreender este recente fenómeno, que parece tornar-se a passos largos numa grave pandemia, acaba por ser interessante. Pensa esta gente mesmo isto ou… Precisamente por não pensar, nem sobre isto nem sobre nada, mordeu o primeiro isco que lhe apareceu à frente? O isco do populismo e de meias mentiras cruzadas com totais inverdades?
Vamos ver onde isto vai parar… Mas a bom porto, nos próximos tempos, não me parece…