Os trabalhos na última sessão da Assembleia Municipal (AM) de Porto de Mós decorriam dentro da normalidade (à exceção da saída do deputado Rui Neves – ver aqui artigo Rui Neves deixa sessão da Assembleia Municipal “a meio”) quando chegou a vez de discutir o seguinte ponto: “Designação de quatro membros para a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Porto de Mós”. A presidente da AM, Clarisse Louro, começou por dizer que, à Mesa, havia chegado uma lista, entregue pelo PSD, com quatro nomes, e questionou se havia mais listas. O burburinho instalou-se automaticamente entre os deputados, nomeadamente do Partido Socialista e alguns presidentes de Junta. Os deputados diziam não saber que era necessário apresentar listas, havendo mesmo alguns gritos de “Viva a democracia!”. Clarisse Louro disse que essa organização compete «aos líderes de bancada e não à presidente da AM». «O ponto foi para os senhores, à presidente da AM compete presidir a esta AM, não compete entrar em negociações com as bancadas aqui presentes. Têm que ser os senhores deputados a organizarem-se. Não há mais democracia do que isto», frisou.
O presidente de Junta do Alqueidão da Serra, Filipe Batista, tomou da palavra para dizer que «ninguém pediu, não está lá intrínseco que se apresentem listas, esta questão da lista surge aqui». De acordo com o autarca, «não foi definido na informação, que a senhora presidente enviou, para fazer lista. O que diz é que é para nomear quatro pessoas». «Não concordo muito com esta formulação que está a tentar dar, mas é apenas a minha opinião», rematou.
Samuel Costa (PS) quis «reforçar a ideia» de Filipe Batista. «Entristece-me muito esta situação», começou por dizer, lembrando que, em anos anteriores, «houve sempre uma concordância e uma cooperação e junção de esforços nesta temática, que é tão importante, em que todas as bancadas se conseguiram juntar, unir esforços, reunir o que havia de melhor em cada uma, sem desprimor das pessoas que estão nessa lista», sublinhou. O deputado disse ainda que, «no momento que estamos a atravessar, em que cada vez mais se prevê que haja famílias a atravessar momentos difíceis, que há crianças que vão deixar de ter comida em casa», é triste estar «a fazer disto uma questão política».
A deputada social-democrata, Olga Silvestre, começou por, «com o devido respeito», dizer que «ninguém está a fazer disto uma questão política». «Foi uma decisão do PSD apresentar uma lista. Se o PS queria participar nesta lista devia ter previamente contactado, no sentido de agilizarmos isso. Normalmente quem quer é que toma a iniciativa», referiu, acrescentando ainda que «a democracia funciona» pois «quem decide vai ser a maioria». Olga Silvestre frisou que os nomes que constam da lista são de «pessoas muito reconhecidas na sua comunidade, têm mérito» e são «de várias zonas do concelho». «São pessoas que, na nossa opinião, para esta função para as quais serão eleitas, têm competência técnica e mérito», reiterou.
Deputados têm que fazer “trabalho de casa”
Durante toda a troca de opiniões, o burburinho na bancada continuou com protestos por parte de vários deputados. Clarisse Louro voltou a dar a oportunidade para que se entregassem mais listas e vincou a sua posição: «Os senhores líderes de bancada é que têm que se organizar. Eu sou a presidente da AM e os senhores, quando chegam aqui, têm que trazer o vosso trabalho de casa feito», atirou.
Depois de colocar à votação se a eleição seria feita por lista ou elemento a elemento, tendo vencido a primeira opção, Clarisse Louro deu, então, a conhecer os nomes constantes da lista: «Ana Cordeiro, das Pedreiras, professora com participação na Associação de Pais; Jorge Vila Verde Carneiro, advogado de Mira de Aire e dirigente do Clube União Mirense; António José Paiva, vendedor de Porto de Mós, chefe do Agrupamento de Escuteiros de Porto de Mós; e Dulce Custódio, chefe dos escuteiros e deputada municipal». A lista foi eleita com 20 votos a favor e nove votos em branco. No momento da deliberação, Filipe Batista disse não querer votar, tendo, por isso, sido convidado pela Mesa a sair da sala, «porque as democracias estão muito complicadas», disse Clarisse Louro, a que o presidente de Junta de Alqueidão da Serra respondeu: «Não, as pessoas que estão à frente é que são muito complicadas. Isso não é democracia».
O ponto encerrou depois da votação mas o clima mais hostil, entre as diferentes bancadas e para com a Mesa da AM, manteve-se até ao final da sessão.