Quem numa qualquer hora de almoço passar pelas principais avenidas do centro da vila de Porto de Mós, provavelmente poderá espantar-se com a quantidade de lugares de estacionamento disponíveis. Não fosse o rebuliço causado pelos jovens estudantes que sempre por ali andam e podia pensar-se que era agosto, tempo de férias, de alguns estabelecimentos fechados e de deslocação das pessoas para lugares mais propícios ao veraneio. Mas o motivo é outro, parece que as entidades fiscalizadoras do pagamento do estacionamento têm andado em força pela vila, o que tem dissuadido as pessoas de estacionar nestas zonas – pelos vistos, na sua maioria, era gente em incumprimento.
O que é facto é que Porto de Mós padece de um mal semelhante ao de muitas outras terras: a contradição entre o que se diz e o que se faz. Quer-se promover o comércio local, quer-se criar e manter os empregos dos que por aqui trabalham, quer-se atrair mais pessoas (as de cá e as de fora), mas depois cobra-se estacionamento nas avenidas mais centrais, que concentram o maior número de lojas, serviços e restaurantes, cafés ou pastelarias.
Poder-me-ão dizer que atrás da Igreja há um grande parque. E eu concordo. Poder-me-ão dizer que ao pé da Santa Casa da Misericórdia, o que não falta são lugares para estacionar. E eu concordo. Mas também acho que isso não justifica o facto de, na Avenida de Santo António e na Avenida Sá Carneiro, ser preciso pagar para estacionar, até porque há quem não tenha mobilidade suficiente para estacionar mais longe e se deslocar a pé até ao local que pretende. São muitas as pessoas que por ali trabalham, juntando-se às que ali vivem. Quem ali reside, na sua maioria, precisa dos lugares apenas fora do horário de expediente, quando regressa do seu trabalho; pelo contrário, quem por ali tem o seu negócio, usa os lugares durante todo o dia. É uma conjugação relativamente simples. Depois há os clientes, que facilmente fogem para o centro comercial, onde, além de mais oferta, não pagam estacionamento. Mas o que se paga de estacionamento nem se compara com o que se gasta em combustível para ir, por exemplo, a Leiria. É verdade, mas podia ser mais um incentivo.
Outra das críticas recorrentes e que eu subscrevo prende-se com os horários das lojas do comércio local que, na sua maioria, estão abertas quando as pessoas estão a trabalhar. Das duas uma, ou o seu público-alvo é uma faixa etária mais velha, que já está reformada, ou então os proprietários esperam que os clientes tirem um dia de férias para ir poder comprar nas suas lojas.
Não moro em Porto de Mós, mas trabalho cá e seria muito prático, para mim, na hora de almoço poder comprar uma prenda de aniversário para oferecer à minha mãe. Pois, mas não o faço, porque grande parte das lojas está encerrada nesse horário. Eu sei que a maior parte delas tem apenas um funcionário (que por vezes é o dono) e também sei que as pessoas têm direito a almoçar, mas não se poderá encontrar um meio termo?