Inteligência Artificial, a Revolução Industrial do século XXI?

6 Abril 2025

A IA chegou, viu e está a vencer, pouco a pouco, até os mais céticos. Lembro-me da primeira vez que ouvi falar dela, em 2023. Estava num almoço-debate para os lados de Lisboa e quis o destino que na mesma mesa se sentasse um docente do IS Técnico. Era um catedrático, daqueles à antiga que impressionam por tornar qualquer assunto banal no tema mais interessante do mundo. De uma figura com mais para ensinar do que para aprender esperamos poucos ares de surpresa, mas o facto é que assim que surgiu a deixa, perguntou: “Conhecem o ChatGPT?”. Silêncio. “É uma espécie de Google mas mais avançado, diz-nos o que precisamos com um rigor inigualável”, explicou. A forma entusiasta com que em seguida defendeu a sua tese chamou-nos à atenção: “Incluo há muitos anos um problema nos meus exames que, até ver, poucos conseguiram resolver mostrando-me passo a passo como chegaram ao resultado final, mas não é que este chat me deu uma resposta alternativa em segundos?!”, exclamou. O entusiasmo contagiou a mesa, que depressa virou uma espécie de tubo de ensaio. Afinal, todos queriam ver na prática se aquela coisa era tão boa quanto prometia.

O ChatGPT não era em 2023 aquilo que é hoje. À data, resolvia facilmente problemas que pudessem ser esmifrados através do cálculo, mas esbarrava quando lhe atirávamos umas “cascas de banana” em bom português. Somos donos de uma língua muitas vezes ambígua, complexa o suficiente para entorpecer uma máquina que ainda não havia tido tempo para “aprender” a lidar com semelhante situação. Passados apenas dois anos, tornou-se numa tecnologia praticamente exímia no que toca à pesquisa online, sabe comparar dados como ninguém e até gera ficheiros em diferentes formatos, além de responder quase sempre com pontaria e de ter ganhado a habilidade de se esquivar da maior parte das nossas entradas a pés juntos. Dificilmente cai duas vezes na mesma ratoeira.

A impressionante capacidade de aprendizagem tornou a IA numa ferramenta útil e, em breve, indispensável, porque estamos perante uma tecnologia que alia a praticidade à automatização de processos, encurtando mais do que nunca o caminho entre a pergunta e a resposta. Vimos algo semelhante com o aparecimento da maquinaria no séc. XVIII, que deu início à Revolução Industrial. Primeiro as máquinas foram estranhadas, depois temidas e só mais tarde dominadas por uma franja da sociedade que percebeu que precisava de evoluir à sua volta, utilizando-as, adaptando-se a elas e às novas realidades entretanto criadas. Com o aparecimento da Internet a história repetiu-se, mas o que é certo é que a tecnologia nunca parou de avançar. A questão é que agora, com a IA, fá-lo a um ritmo sem precedentes, quebrando barreiras em tempo recorde.

Não podemos pará-la nem proibi-la. Temos que aprender a lidar com ela, estudá-la, afiná-la (está longe da perfeição) e acompanhá-la, tudo isto sem perdermos a noção de que tudo na vida é substituível à exceção do ser humano, o verdadeiro herdeiro do seu próprio destino.