A pouco mais de um ano das autárquicas uma das coisas que mais me tem surpreendido é o aparecimento com meses de antecipação do discurso duro mais comum desse período de excessos. Falar de violência verbal talvez seja exagerado mas a verdade é que aqui e ali vamos ouvindo umas respostas e contrarrespostas que surpreendem pela sua dureza e num “tempo histórico” que, quanto a mim, nada o justificam.
Picardias em política são normais mas temos de ser realistas, o cenário saído das últimas autárquicas não deixa margem para grandes invenções: Há um partido que tem uma maioria bastante confortável na Assembleia e na Câmara Municipal e outro que depois de anos no poder vai tentando fazer o sempre muito difícil caminho na oposição, tornado, neste caso, ainda mais penoso quando parece tardar em encontrar uma estratégia e uma prática comum entre os seus eleitos.
Perante este quadro, e ainda fora do tal período de excessos, haverá necessidade ou interesse político em algumas reações a críticas ou a meras opiniões divergentes se adotar um discurso, por vezes, tão duro?
Trocas de acusações mútuas de faltar à verdade ou, imagine-se, por exemplo, apelidar alguém, com todas as letras, de “velho do Restelo”? Justifica-se num cenário onde o desequilíbrio de forças é tão claro e quando sabemos que fora dos palcos políticos as pessoas até têm uma boa relação pessoal e são vistas, de ambos os lados, por quem está de fora, como moderadas? Não me parece.
A próxima equipa autárquica vai ter desafios interessantes em várias áreas, nomeadamente na cultura e no turismo. A discussão já é velha e cada vez sai mais justificada por força dos equipamentos que vão sendo inaugurados: Que estratégia cultural queremos para o concelho? O que vamos fazer dos equipamentos, uns a necessitar de intervenção, outros, novinhos em folha, a precisar de serem rentabilizados, não só, mas, também, para justificar os vultuosos investimentos ali feitos?
Para uns é uma questão menor mas para quem dá valor à cultura e também não aprecia o desperdício de dinheiros públicos, decerto, será uma dor de alma ver as duas principais salas de espetáculo do concelho em degradação e com taxas de ocupação muito aquém do que seria expectável tanto em termos de “necessidade” cultural da população, como para justificar o investimento financeiro realizado.
Não defendo que quando se pensa na cultura o primeiro fator a ter em conta seja o dinheiro mas também não podemos fazer só porque sim sob pena de estarmos a construir autênticos “elefantes brancos”. Por isso, é urgente renovar o que houver para renovar e dar mais vida a renovados e novos equipamentos culturais.
Na área do turismo muito já foi feito mas muito ainda se pode fazer. Aqui, como na área cultural, há uma discussão que, se calhar, interessava fazer, embora não seja necessariamente a central. Deve no caso da cultura o poder autárquico ser promotor de eventos que poderiam ser dinamizados por associações e grupos locais desde que Câmara e Juntas canalizassem verbas para esse fim, ou é fundamental e imprescindível ser o poder autárquico a dar o exemplo? E no turismo, qual o papel que deve estar reservado às autarquias? Que relação é que Câmara e Juntas devem ter com os operadores turísticos locais? Quem tem a obrigação principal de atrair o turismo, e que turismo queremos?