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Meio século em prol do desporto

29 Março 2021
Armindo Vieira

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Armindo Vieira

29 Mar, 2021

Não é o clube mais antigo do concelho de Porto de Mós, mas o Grupo Desportivo das Pedreiras (GDP) é seguramente dos mais antigos do concelho, tendo sido criado em 7 de março de 1971.

Houve uma tentativa em 1966 para a constituição de um grupo desportivo nas Pedreiras, encabeçada pelo saudoso Vítor Beato Pires, projeto que não avançou por este ter sido mobilizado para a guerra colonial. Mais tarde, Joaquim Luís Vieira Júnior deu início ao projeto de constituição do Grupo Desportivo das Pedreiras (GDP), cuja primeira reunião teve lugar no velho Salão Paroquial das Pedreiras. Foi ali que se decidiu pela concretização do agrupamento desportivo, tendo sido nomeada a Comissão Instaladora, presidida por José Vazão Saloio.

Os estatutos do GDP foram aprovados pela Direção-Geral de Educação Física e Desportos e pelo Governo Civil do Distrito de Leiria em 7 de dezembro de 1973. A partir de 1975/1976, participou nos campeonatos distritais de futebol do INATEL, tendo-se classificado nesta primeira época em terceiro lugar e na época seguinte conseguiu o segundo lugar, conquistou a taça de disciplina e ficou apurado para o campeonato nacional, sendo entretanto eliminado.

No ano de 1979 inscreveu-se na Associação de Futebol de Leiria e, a partir daqui, iniciou a competição nos campeonatos distritais, participação que durou até ao ano de 2004. Durante todos estes anos, o GDP, com equipa de seniores, foi campeão de série por duas vezes e conquistou uma taça de disciplina. Ainda na modalidade de futebol, o clube pedreirense participou em campeonatos distritais com equipas dos escalões de formação, tendo sido campeão distrital uma vez e campeão de série por mais que uma vez. Conta ainda com o recorde de golos marcados num só jogo (21-0), no escalão de infantis.

A inscrição na Associação de Atletismo Distrital de Leiria, aconteceu no ano de 1998, uma vez que havia interesse em que os seus atletas da modalidade participassem em provas federadas. Foi nesta altura que se iniciou a formação de atletas nas modalidades de atletismo, pois é precisamente nos diversos escalões desta modalidade que o clube conseguiu diversos feitos dignos de registo, nomeadamente campeões distritais e nacionais.

O clube conta também com equipas de veteranos em futebol e de karaté, este com escalões de formação.

Nos terrenos anexos ao campo de futebol, o Grupo Desportivo das Pedreiras construiu um pavilhão gimnodesportivo e tem em projeto a construção de uma pista de atletismo.

O GDP conta com 360 sócios e na última época dois atletas conseguiram medalhas de bronze em Campeonatos Nacionais de Sub-18, triplo salto e 3 000 metros marcha, sendo que o clube classificou-se em segundo lugar a nível nacional no Triatlo Técnico Jovem.

Os atletas do GDP são frequentemente chamados para representar a seleção de Leiria em competições nacionais. Destacam-se as presenças, no Olímpico Jovem Nacional, André Salgueiro, medalha de prata em 2010, Rita Vazão, medalha de ouro em 2014, e Constança Silva, ouro em 2019. Também pela seleção de Leiria, no Triatlo Técnico Nacional, Bernardo Cunha foi medalha de bronze em 2020. Há ainda diversos atletas detentores de recordes distritais.

Presidente lamenta falta de reconhecimento do atletismo

Nascido e criado na freguesia das Pedreiras, Renato Almeida é há quase dois anos o presidente do Grupo Desportivo das Pedreiras (GDP). Chegou com a audácia de fazer o clube crescer e com a ambição de criar mais condições para os atletas que aí treinam, porém a pandemia acabaria por lhe assombrar por completo o mandato, que termina já no próximo mês de maio. Confessa que se sente como se estivesse de mãos e pés atados pois a crise sanitária levou ao adiamento ou cancelamento de todos os eventos, a «única fonte de rendimento» do clube. «Este mandato conseguimos fazer dois eventos: as tasquinhas e um festival de sopas. Passámos mais de um ano em que não conseguimos fazer nada», desabafa.

Apesar dos escassos recursos que a pandemia veio adensar, o presidente, de 36 anos, confirma a aquisição de algum material, como é o caso de uma gaiola de proteção para os lançamentos, de forma a «evitar algum acidente». Com o fim do mandato em perspetiva, Renato Almeida não esquece aquele que foi um dos primeiros desejos quando entrou para a direção do clube e que espera agora ver concretizado. «Nós achámos que deveríamos adquirir uma carrinha porque aquela que havia era já bastante velha. Com o que poupámos com mais um ou dois apoios que consigamos, em princípio, em maio vai cá estar uma carrinha semi-nova para os atletas», antecipa.

Fundado em 1971, o Grupo Desportivo das Pedreiras conta hoje com quatro secções, mas é no atletismo que se tem mais destacado, como mostram os resultados da última época. «No distrito estamos no top dos cinco primeiros», revela, orgulhoso, o presidente do clube, apressando-se a acrescentar: «Aliás, até a nível nacional. Ainda o ano passado tivemos atletas premiados com os primeiros lugares a nível nacional, à frente do Sporting e Benfica». Apesar do feito conseguido, Renato Almeida considera que ainda existe quem não dê o devido reconhecimento a esta modalidade. «Se perguntar a pessoas aqui na freguesia, se calhar a maior parte nem tem noção de que há atletas com tão bons resultados. Se fosse futebol, agora como é atletismo, muitas pessoas nem ligam», lamenta.

Treinadores lutam para impedir abandono de atletas

A história do Grupo Desportivo das Pedreiras começou a ser escrita há precisamente meio século, com uma secção de futebol, hoje limitada aos veteranos, a velha guarda, que permite a 26 antigos jogadores do clube, entre os 35 e os 60 anos, manter uma relação de proximidade entre eles. Mais tarde, vingou o atletismo, uma das modalidades com que o clube tem conseguido ir mais longe e da qual fazem parte 42 atletas, entre os 7 e os 25 anos, oriundos de várias freguesias do concelho, mas também da Batalha e de Alcobaça. Participam em provas de pista, corta-mato e estrada, organizadas pela Associação Distrital de Atletismo de Leiria e em provas a nível nacional organizadas pela Federação. A estas somou-se, em 2008, o Dojo de Karaté, uma secção que forma crianças desde os 6 anos, sem limite de idade, e que conta com 25 praticantes. No entanto, é o atletismo que tem levado o nome do GDP além fronteiras.

Carla Santos, de 34 anos, licenciada em Gestão Desportiva, está no clube desde 2011. Começou por «ajudar nos treinos» e hoje é a única mulher, num universo de oito técnicos, que estão responsáveis pela secção de atletismo. Confessa que durante a sua experiência não tem memória de um momento tão difícil como este. «Acho que nunca tínhamos passado por uma situação tão estranha como esta. Continuamos a insistir com eles e a tentar que, pelo menos, quando regressarmos aos treinos, todos voltem porque prevê-se que haja algum abandono e estamos a fazer para que não aconteça», diz.

Na impossibilidade de haver treinos presenciais, a solução encontrada para minimizar os impactos da distância causados pela pandemia foi o envio de um plano de treino por e-mail e a criação de uma sessão, através da plataforma Zoom, aos sábados, para a realização de exercícios de força para que, explica, os atletas possam «fortalecer os músculos» e «não percam a forma». Essas aulas são normalmente guiadas por Emanuel Moniz, diretor técnico do GDP, e também por dois alunos do curso de Desporto, da Escola Secundária de Porto de Mós que têm a tarefa de «preparar uma parte do treino, explicar os exercícios e exemplificar». Apesar de reconhecer que esta interatividade com os jovens é uma forma de «estimular os miúdos» e de haver «outra motivação», a treinadora admite que há atletas «não estão mesmo a treinar». «Há alguns que fazem a sessão religiosamente, outros não, ou porque não querem, ou porque não podem. Às vezes falta um bocadinho de vontade», justifica, entre risos.

Reconhecendo que não tem havido «muita adesão» e que, por vezes, o feedback não é aquele que esperavam, Carla Santos garante que os treinadores continuam a insistir com os atletas, fazendo-lhes ver que, ao continuarem ativos o regresso não será tão penoso. «Nós dizemos que isto não vai durar eternamente. Há-de haver uma altura em que vamos voltar e quando voltarmos é importante que eles estejam em boa forma, para que não haja lesões», explica, ressalvando que caso ainda sejam realizadas provas este ano «é importante» que os atletas «não parem» para que quando voltarem ainda tenham «o seu nível lá em cima».

Uma pista de tartan que ainda permanece um sonho

Aquele que para muitos foi um ano para esquecer, para o GDP foi um ano “em cheio”. O clube ficou em segundo lugar na classificação de clubes a nível nacional, no Triatlo Técnico Jovem, o que, acredita Carla Santos, veio trazer uma «grande visibilidade». «Somos um clube pequenino, com umas instalações com muita carência, e no entanto, os nossos atletas conseguiram chegar a um patamar desportivo idêntico ao de outros que têm grandes condições de trabalho», salienta a treinadora. Bernardo Cunha e Isa Pires são exemplos disso. Mesmo treinando num espaço com «más condições», conseguiram arrecadar duas medalhas de bronze nos Campeonatos Nacionais de Sub-18.

Apesar de este ser um sonho já «bastante antigo», o valor necessário para construir a pista de tartan leva a que continue a ser vista como miragem. «Há pouco tempo chegámos a tirar as medidas no espaço em que queríamos colocar o tartan e o orçamento rondava os cerca de 100 mil euros», conta Carla Santos. Um investimento insuportável para as capacidades económicas do clube. «Não temos verbas para isso, se não formos apoiados por alguém. Era uma coisa que gostávamos de ter, para eles poderem treinar em condições e podermos ter melhores resultados, mas não é fácil», lamenta o presidente do clube, Renato Almeida.

Na impossibilidade de se conseguir construir a tão desejada pista de tartan, o clube teve que adaptar os parcos recursos de que dispõe e por isso, os treinos são feitos em tout-venant. «Mesmo com o tout-venant pusemos umas linhas para fazer as retas e os miúdos terem a noção do espaço em si, igual a uma pista, para se tentarem adaptar», explica. No entanto, admite, a diferença entre um piso e outro é «bastante grande»: «Nós tentamos minimizar. O tout-venant permite que eles utilizem as sapatilhas de bicos e assim já lhes dá uma sensação um bocadinho mais próxima, mas mesmo assim não é de todo suficiente». No GDP, a única exceção é a pista de salto em comprimento que já dispõe de «pedaçinhos de tartan», cedidos pela Associação Distrital de Atletismo de Leiria, e que permitem que o impacto «não seja tão violento».

Com Jéssica Silva

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