Já viram quem decidiu dar um sorridente, olá? O pequeno sol da Primavera, a estação que todos nós ansiamos pela chegada. Aquela que nos faz deixar para trás a depressão das primeiras semanas do ano e nos inunda a pele com Vitamina D. Aquele tempo que nos permite secar a roupa na rua e onde nos apetece ir dar cambalhotas no jardim de infância.
Uma alegria que… dura pouco tempo porque daqui a alguns dias estamos em Abril e o que dizem as avós? “Abril, chuvas mil”. Pois, tá claro! Claro, nada…ESCURO! Só aceito chuva se estiver dentro de casa. Era o que faltava. E, enquanto escrevo, estou a observar pela janela uma nuvem bem cinzenta por cima da serra. “Por falar no Diabo”, né?. Estou a precisar de uns raios de sol no focinho. Tive umas semanas azaradas. Sou um desastre com a mão direita, o que significa que sou exímia com a mão esquerda – apenas porque sou canhota –, então tenho várias feridas e uma delas é de queimadura.
Certo dia, enquanto cozinhava, entrou um pássaro pela janela que me assustou. Desorientado, comecei a dar-lhe indicações – como se faz aos pilotos dos aviões quando estes precisam de aterrar –, em direção à janela. Ele não me estava a perceber, bateu contra a parede e quase desmaiou para cima de um dos bicos do fogão que estava aceso. Eu, como heroína que sou, impedi isso agarrando no pássaro o mais rápido possível e atirando-o para o balcão, mas não consegui salvar a minha pobre mão que se queimou. O passarinho agradeceu-me, assobiando As Pombinhas da Catrina, abriu a porta de entrada e foi-se embora a pé. A partir desse momento, soube que tinha feito um amigo para a eternidade. E é esta a história da minha vida. “Tá bem, abelha”.
Queria eu conseguir dar uma justificação magnífica como esta, porém a verdadeira história não é assim tão empolgante. Eu fui, digamos, um cadinho burrinha. Estava num daqueles dias de depressão após rodagens, a preparar-me para ir dormir, e queria aquecer água para meter na botija. Seguro a botija na mão direita e uso a esquerda para despejar a água da chaleira. Ora, numa questão de segundos, a água transborda e cai em cima da minha mão. Eu pensei em largar, mas não o fiz porque na minha cabeça a água iria espalhar-se pelo chão e além de ter de o limpar também iria molhar os pés. Então, aguentei. Depois meti a mão em água fria e dentro do congelador para ir dormir com ela a arder. E duas semanas depois a minha mão continua queimada. “Maria Vitória, acabou-se a história”.
Então, como podem ver eu bem que preciso da Primavera para ver se arrebito a saia e paro de chorar. Talvez até vá ao jardim andar de baloiço… pode ser que encontre o passarinho que salvei num dia de Inverno.