Os nossos filhos não precisam de perfeição. Precisam da nossa presença.

7 Maio 2025

Vi a série Adolescência, como quase meio mundo. E, desde então, não me sai da cabeça. Há coisas que vemos e esquecemos, enquanto outras ficam. Esta ficou. E ficou porque mexeu comigo. Porque, de repente, a urgência de ver, de compreender e, sobretudo, de agir, tornou-se impossível de ignorar.

O que a série nos mostra — o isolamento, os pais que não conseguem perceber os sinais, os jovens que sofrem calados — não é nada novo, mas é real. Sempre foi. A diferença é que hoje temos ferramentas para falar sobre isso e, mesmo assim, ainda nos deixamos em silêncio.

Todos devíamos ver a série. Mas, mais importante do que isso, devíamos falar sobre ela com os nossos filhos. Sobre aquilo que se passa ali, sim, mas sobretudo sobre aquilo que se passa cá dentro. Porque a nossa atenção pode ser o ponto de viragem de uma história que, se não for ouvida, pode acabar mal.

Li em muitos comentários que “foi um murro no estômago”. E foi. Não por ser inesperado, mas por sabermos que aquilo podia estar a acontecer mesmo ao nosso lado, porque sabemos — ainda que prefiramos não pensar nisso — que há miúdos a sofrer. Que, em casa ou na escola, há sinais que ninguém vê. Pedidos de ajuda que ninguém escuta. Quando nos mostram isso sem filtros e sem panos quentes, o impacto é outro. Deixa de ser ficção. Passa a ser possibilidade. Passa a ser pessoal.

Sou mãe de dois. E, como todas as mães, vivo preocupada. Eles cresceram num mundo diferente do meu. Estão mais conectados do que nunca, mas também mais sozinhos. As redes sociais não são o problema, o problema é o silêncio. É o vazio no meio da multidão digital.

Hoje, os nossos filhos podem ter milhares de amigos online e, ainda assim, sentirem-se sozinhos. Muito sozinhos. Isso é o que mais me assusta. Não é o Instagram. Não é o TikTok. É a ausência de presença real, de contacto, de escuta, de toque.

Porque atrás de cada fotografia perfeita pode estar alguém a gritar por dentro, e ninguém ouve. Há muitos Jamies. Há muitas Katies. E aquilo que mais precisam não é de julgamentos, nem de conselhos rápidos. É de presença. De espaço para falar. De alguém que ouça.

Quando eu era adolescente, não havia redes sociais. Mas já havia solidão. Já havia bullying. Lembro-me de colegas a serem humilhados, postos de parte. E o pior não era isso. O pior era o silêncio. O ninguém ver. O ninguém perguntar.

Hoje, tudo se amplificou. O bullying não fica na escola. Vai para casa e entra nos quartos, instala-se nos telefones. A solidão também mudou de cara: agora veste-se de filtros bonitos. E é por isso que temos que estar mais atentos.

Não podemos tirar os nossos filhos da Internet. Nem devemos. O mundo deles também é digital. Mas podemos estar lá. Presentes. Atentos. Mesmo quando eles acham que não precisam. Mesmo quando dizem que está tudo bem.

O problema não são as redes. É o silêncio. É a ausência. É fingirmos que está tudo certo, quando não está.

Os pais não são super-heróis. Eu não sou. Por mais que gostasse, não consigo protegê-los de tudo. Mas posso estar. Ouvir. Acolher. Porque, no fim, é disso que eles mais precisam. Não de perfeição, mas de presença.

Presença que escuta. Que abraça. Que entende. Seja nos 20 anos do meu filho Salvador ou nos 7 anos da minha filha Benedita.