Vivemos tempos curiosos. De repente, a perfeição virou uma moda. Queremos que tudo seja impecável: as fotos no Instagram, as relações pessoais, a carreira profissional, o futuro dos nossos filhos. Claro, queremos filhos e alunos perfeitos também. Educá-los, como pais e professores, para uma vida onde tudo corre exatamente como nos livros ou nos filmes – mesmo que o nosso coração saiba bem que a vida nunca segue por linhas tão retas.
E na escola? Queremos que tudo seja perfeito ali. Que as notas sejam as melhores, que os projetos sejam exemplares, que tudo seja aprendido e fixado de uma só vez. Mas sabemos, lá no fundo, que uma escola é muito mais do que um lugar onde se acumulam saberes e boas notas. A escola é um espaço de aventuras, de quedas, de risadas e descobertas. É o lugar onde as crianças (e nós também, se deixarmos) aprendem que o erro é uma oportunidade de fazer diferente.
Queremos tanto para os nossos filhos – e, ao mesmo tempo, parece que os queremos imunes à vida. Como se fosse possível escapar das quedas que a todos nos ensinaram a levantar.
Porque será que a palavra “perfeito” precisa estar sempre no lugar mais alto da prateleira? Não será muito mais valioso que eles aprendam a alcançar o que desejam com as suas próprias mãos, no seu tempo e à sua maneira?
Há uma linha invisível entre o que chamamos de exigência e o que, sem percebermos, se transforma em carga, em ansiedade, numa pressão para que sejam “perfeitos”: ótimos alunos, filhos exemplares, estrelas nos desportos, prodígios nas atividades extracurriculares.
Mas será que queremos mesmo isso? Ou, no fundo, queremos filhos e alunos que saibam valorizar-se a si mesmos?
Ser mãe, ser pai, ser professor – somos tudo isso e mais. Tentamos o impossível todos os dias: educar sem sufocar, ensinar sem forçar. Estar presentes sem exigir que sejam aquilo que nunca fomos. Talvez o maior segredo seja educá-los para que se sintam felizes com quem são – e não com aquilo que imaginamos que deviam ser.
Que a escola e a casa sejam lugares de encontros, de surpresas e de alguma magia. Onde o “perfeito” seja simplesmente o que se vive com tranquilidade, em paz e com mais simplicidade. Porque, se o verdadeiro sucesso é encontrar um caminho feliz – que esse seja o caminho. O resto, é paisagem.