Já não me lembrava do que era “fazer praia”. A falar a sério, passei tanto tempo em casa que o ano passou a ter apenas três estações: primavera, outono e inverno. Que saudades eu tinha de meter o pé na areia, de mergulhar nas águas geladas da Nazaré e de reencontrar um amigo que sempre me acompanhou nestes três meses de calor: o escaldão.
Foi preciso apenas um dia de praia, para os meus ombros ficarem da cor de uma lagosta. Sim, lagosta. E como “escaldão” não é um nome amoroso que me permite expressar o quanto gosto deste velho amigo, vou passar a chamá-lo “lagosta”.
Ele gosta tanto de mim que não deixa ninguém me tocar. Nem os meus lençóis. E ainda me dá uma pele nova e fica com a antiga. Com certeza que não me lembro de ser tão amada por alguém como sou por ele nesta altura. Quem não quer alguém assim. Sempre disse à minha mãe que homem para casar é aquele que não me larga as costas e ainda me cuida do corpo.
Mas eu tenho uma pergunta na minha cabeça. Eu nunca percebi muito bem de onde vem a expressão “fazer praia”. Na minha adolescência aquilo que se encontrava em todos os estados do Facebook não era “fazer praia”, mas sim, “a trabalhar para o bronze”. Era “buéda” fixe entre nós, jovens. Mostrar a rebeldia dos tempos em que todos víamos Morangos Com Açúcar. Mas “fazer praia” foi algo que nunca se ouviu muito. Afinal, o que é fazer praia? É que ela está feita. Ou será que praia já não é considerada uma área composta por areia e mar e passou a ser considerada um conjunto de ações?
Ler sentada numa cadeira ao sol, comer gelado, ouvir música, mergulhar, bronzear, comer bolas de berlim. Será que é isso “fazer praia”? Mas eu posso fazer isso tudo na piscina ou no rio. Significa que passo a “fazer rio” ou a “fazer piscina”? Se assim for, alguém que explique à minha mãe que a razão de eu passar tanto tempo no banho é porque estou a “fazer banheira”. Pode ser que ela deixe de me chatear quanto a isto de poupar água. Estou a brincar, nós temos de ser conscientes em relação ao ambiente. Não se esqueçam: desligar as luzes quando não estão a ser utilizadas e fechar as torneiras quando estamos a lavar as mãos ou os dentes. Oiçam as palavras sábias desta singela rapariga.
Em suma, estou a gostar deste retorno do verão. Sinto que estamos a alcançar a normalidade, mesmo que não seja a antiga, mas que seja uma nova
e melhor. Por agora, vou voltar à minha rotina, de hidratação de pele, que o lagosta ainda não me largou as costas e agora já me está nas pernas. Este amigo, que tinha tantas saudades minhas, não me deu apenas um, mas dois escaldões.


Cátia Beato
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