Temos tendência para o saudosismo quando olhamos para os nossos tempos idos (serei só eu?). Quando pensamos na altura em que andávamos na escola e íamos almoçar com os colegas ou nos perdíamos de risos nos intervalos por coisas sem jeito nenhum, há um aperto que se apodera do nosso peito. “Se eu pudesse voltar…” canta uma banda portuguesa e é assim que nos sentimos, exatamente assim. Não falo dos tempos de criança, mas da adolescência em que vivemos tudo com uma intensidade que raramente experimentamos depois. As lágrimas são sentidas como facas que rasgam a pele e as paixões causam-nos dores que chegam a ser quase físicas. Quando olhamos para aquele tempo, em que juramos amizade e amor para a vida toda, temos (tenho!) uma vontade de voltar lá, nem que fosse por um só dia e sentir tudo aquilo e viver daquela maneira outra vez. Este saudosismo, que em nada tira a felicidade que temos no hoje pelo que somos ou vivemos, intensifica-se, julgo eu, por acharmos que os adolescentes dos nossos dias, se calhar, não vivem como nós vivíamos. Com ele, vem a pena por acharmos que aqueles miúdos que, em todas as horas de almoço, vemos pelas ruas da vila de Porto de Mós, não sentem como nós sentíamos, não vivem como nós vivíamos e, por isso, estão a perder uma parte tão boa da sua vida.
Mas será isso mesmo assim? Não serão as novas gerações tal e qual como a minha e como as que vieram antes de mim? Adaptadas aos tempos e à sua evolução, mas emocionalmente iguais? Não sentirão hoje os jovens as mesmas dores que todos nós sentimos com aquela idade? Não julgarão que os seus problemas são os maiores do mundo e que ninguém os compreende, tal como aconteceu com todos nós?
Um dia destes, almocei sozinha e observei-os. Juntam os trocos de cada um e compram comida em conjunto, “para levar, por favor”, para se irem sentar num qualquer banco de jardim a comer e a falar de coisas triviais como os jovens (e tantos adultos) fazem, e que bem que isso lhes sabe. A sua maior preocupação é acabar de comer antes de dar o toque de entrada para a aula da tarde, mas se chegarem um bocadinho atrasados também não faz mal porque “ó stora, não conseguimos despachar-nos a almoçar”. E durante esse tempo, nem se apercebem da quantidade de gargalhadas que deram e da importância que isso terá, para sempre, nas suas vidas.
Fiz, na minha adolescência, amigos que julguei serem para a vida toda. Alguns são, de facto, os outros perderam-se nas suas histórias, enquanto eu estava emaranhada na minha. Mas para com todos há um sentimento único e quase inexplicável, um amor que se alimenta das recordações e dos bons tempos que tivemos juntos. Que os jovens de hoje sintam como eu senti e que sejam capazes de amar como eu amei.