Das primeiras tribos da Mesopotâmia às tribos urbanas, a história da humanidade tem evoluído nas formas de aglomerações tribais que começaram por servir propósitos de sobrevivência, até reunirem pessoas em torno de ideias comuns ou dando um sentido de pertença.
Basta recuar 20 anos até aos corredores da Escola Secundária de Porto de Mós e era possível ver as várias tribos que se cruzavam nos intervalos. Sendo de São Bento, naturalmente a primeira que me vem à memória é a dos serranos, com as suas diferentes castas, consoante o autocarro que apanhavam. A malta do Alqueidão da Serra era de uma estirpe diferente porque, apesar de serem da serra, havia uma concentração tão elevada de crânios per capita que os fazia subir uns pontos na hierarquia. Havia ainda os betinhos da vila, os rebeldes da Corredoura, meia dúzia de nerds e mais outras tantas subculturas.
Hoje em dia, essa visão até pode ser cómica e embaraçosa, no entanto, a realidade é que, enquanto adolescentes em processo de formação identitária, o sentido de pertença, ou de oposição, assume um papel relevante.
Não é de estranhar que, com a chegada das redes sociais, as pessoas se agrupem em torno de interesses e ideias comuns. Se a psicologia grupal apresenta vantagens no desenvolvimento das sociedades, pois estimula a criação de redes de cooperação, como por exemplo ações de voluntariado comunitário, quando estimulada em excesso, tolda a capacidade de pensar de forma equilibrada.
Em primeiro lugar porque as redes sociais não são criadas com uma base pluralista. Voltando ao exemplo das tribos de adolescentes, por mais fechadas que tendam a ser, convivem nas salas de aula com colegas de diferentes grupos e têm até de cooperar na realização de trabalhos.
Já as redes sociais assentam em algoritmos que têm como missão principal estimular a utilização e permanência nessa mesma rede, oferecendo conteúdos alinhados com as suas preferências. E quanto mais interagimos com conteúdos de um determinado tema, maior é a câmara de eco que se gera em torno desse tema e passamos a estar isolados numa bolha, sem acesso a contraditório. Além disso, as redes sociais agregam milhões de pessoas, o que amplifica em larga escala estas bolhas e dá o incentivo a quem podia nutrir simpatia por visões radicais e sectárias da sociedade, mas que tinha alguma vergonha de as admitir publicamente.
Se pegarmos nos algoritmos, na tendência humana para procurar validação social e juntarmos perversos mecanismos de falsificação e descontextualização de conteúdos temos terreno fértil para a criação de um ecossistema de desinformação poderoso para a manipulação das massas. E assim chegamos à era das fake news. Sobre isso falaremos depois!
Nada de verdadeiramente importante está no Instagram ou TikTok. Por isso, neste Natal conectem-se à rede que realmente importa: a do afeto. E se precisarem de usar o telemóvel, que seja para fintar a distância de quem está fisicamente longe.
Um Feliz Natal!
Patrícia Santos