Luís Vieira Cruz

Uma medalha para estes heróis, por favor

8 Jul 2024

Eram pouco mais de duas e meias da tarde de quarta-feira e o telemóvel não parava de tocar. Depois de umas quantas chamadas silenciadas e outras tantas rejeitadas devido à agitação própria de um fecho de edição no seio desta ou de qualquer outra redação, lá achei a insistência estranha, então atendi e escutei: “‘Tou? As tasquinhas estão a arder!”. Um primeiro reflexo quase levou a que a chamada, por azar dos azares, caísse, para que se pudesse voltar ao trabalho, mas a reação do outro lado da linha deitou quaisquer dúvidas por terra. Para espanto de todos, era mesmo verdade. Aquilo que ninguém julgava ser possível estava a acontecer mesmo debaixo do nosso nariz.

A pressa para – sob o toque de sirene da corporação de bombeiros aqui ao lado – entrar no primeiro carro disponível e acorrer ao local para fazer aquilo a que o nosso ADN jornalístico obriga era muita, mas ainda maior se tornou assim que fitámos a negra nuvem de fumo que rapidamente tomou conta dos céus, desviando automaticamente o nosso olhar. Se já suspeitávamos da gravidade da tragédia, então ali tivemos a certeza de que o cenário a encontrar passados uns minutos pouco ou nada teria de animador.

A caminho não ouvimos explosões, não sentimos a terra tremer nem vimos vidros estilhaçados. O que encontrámos no teatro de operações foi já o que outras centenas pouco antes ou depois de nós também vislumbraram: uma correria desenfreada das equipas de segurança e das autoridades para fechar o perímetro, empurrando para “zona fria” todos os mirones; vários soldados da paz empenhados no combate às chamas e, claro, um rasto destrutivo que se apresentou sob a forma de um stand de motociclos totalmente devastado, duas tasquinhas danificadas e um clássico brutalmente amolgado pela força da colisão de uma botija de gás que contra ele se lançou e que a poucos metros do embate se decidiu quedar, ainda em chamas.

A rápida e brava atuação dos bombeiros evitou males maiores, não fosse o incêndio propagar-se ao restante recinto… Há, contudo, duas vítimas a lamentar. São ambos operacionais da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Porto de Mós e ficaram feridos na sequência de uma das explosões.

Aos corajosos soldados da paz, que enfrentaram um perigo pelos vistos muito mais encapotado do que aquilo que inicialmente se poderia prever, votos de melhoras e de um regresso à vida civil e associativa tão rápido quanto possível. Talvez não fosse descabida a atribuição de uma medalha de serviço pela coragem demonstrada e por terem estado na linha da frente, arriscando literalmente as próprias vidas em prol da segurança e do bem comum.

Fica a sugestão.