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Pedagogia e ciência ao serviço da comunidade

14 Fevereiro 2019
Isidro Bento

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Isidro Bento

14 Fev, 2019

Tem interesse por História e por Arqueologia? Dispõe de algum tempo livre? Gostava de experimentar ser arqueólogo “por um dia”? Não, não temos um emprego nesta área para lhe oferecer, mas deixamos-lhe a “dica”: Em abril deste ano, o Campo Militar de Aljubarrota, em São Jorge, vai receber uma nova campanha arqueológica e a equipa liderada pela arqueóloga da Direção Geral do Património Cultural (DGPC), Maria Antónia Amaral, mostra-se disponível para acolher voluntários, desde jovens alunos do Secundário, a estudantes de arqueologia interessados num pequeno estágio ou, simplesmente, quem queira fazer essa experiência. As condições e a altura exata em que isso poderá ser feito ainda não são conhecidas mas é melhor manter-se atento e logo que haja novidades, tentar a sua sorte, até porque além de viver algo novo, é bem provável que, em alguns dias, tenha a seu lado verdadeiras referências nacionais e até internacionais nas áreas da arqueologia, história e geologia, que integram o projeto em representação da DGPC e de universidades portuguesas e espanholas, ou enquanto convidados, e com os quais há sempre muito a aprender.

A campanha a iniciar dentro de escassos meses integra o “Projeto de Reestruturação do Campo Militar de São Jorge”, financiado pelo Turismo de Portugal através do Programa Valorizar, e tem como entidades envolvidas e promotoras a Associação dos Amigos do Campo Militar de S. Jorge, o Centro de Interpretação Batalha de Aljubarrota, a Fundação Batalha de Aljubarrota, a DGPC e algumas universidades portuguesas e estrangeiras.

À conversa com O Portomosense, Maria Antónia Amaral explica que os grandes objetivos desta campanha passam por «uma nova abordagem das descobertas de Afonso do Paço, datadas de 1958, com reescavação da área das covas do lobo e dos fossos, com o recurso a novas metodologias de registo, mais atuais e mais rigorosas, e tentar resgatar mais informação e eventual espólio da época da batalha ou de outras épocas». A isso junta-se a questão das fortificações encontradas e neste caso ver se há mais, qual a área ocupada por todo este sistema defensivo, quais as tipologias e para que serviam e se isso reforça a teoria vigente ou se lança novas luzes interpretativas sobre esta batalha.

E já se sabe muito sobre a Batalha de Aljubarrota? Maria Antónia Amaral considera que sim, que «há já um grande conhecimento histórico» recordando, a título de exemplo, o trabalho de investigação e de reflexão sobre a batalha desenvolvido pelo professor da Universidade de Coimbra, João Gouveia Monteiro. «O contributo que, neste caso, a arqueologia pode dar é revelar tudo aquilo que não está escrito e isso também pode ser interessante e mudar até interpretações que têm vindo a ser defendidas até hoje», refere. «Embora o professor Gouveia Monteiro diga que não terá sido bem assim, tem-se defendido, por exemplo, que o nosso exército combateu essencialmente a pé. Imagine que agora encontramos uma vala com cavalos. Isso iria revolucionar a teoria atual ou, pelo menos, dar umas achegas àquilo que já se sabe, reforça.

População mais sensível

Descobertas surpreendentes ou até mesmo revolucionárias não são das coisas mais comuns na vida de um arqueólogo, daí que o dia-a-dia se faça antes, de pequenas vitórias e avanços. Na última campanha em São Jorge, não foram encontradas «pontas de ferro ou outro material de guerra, muito menos valas comuns» como bem gostaria a equipa, mas mesmo assim o balanço desses meses de trabalho é positivo: «Encontrámos vestígios da topografia antiga que vêm corroborar algumas teses como a de Gouveia Monteiro, de que se verificou um estreitamento do planalto na zona da capela e isso é uma descoberta muito interessante porque, como em muitos outros campos de batalha, a topografia ditou tudo», refere a especialista, acrescentando que «não é uma descoberta daquelas de “pôr num museu” mas em termos de investigação é muito interessante». Se o material relativo ao período da batalha se revelou escasso, em contrapartida foram encontrados muitos elementos de outras épocas e que depois de estudados vão dar um bom contributo para o conhecimento sobre a história de São Jorge. “Encontrámos vestígios que vieram confirmar que naquele sítio houve uma ocupação pré-histórica muito grande. Há também muitos materiais relacionados com a alimentação e ossos de animais de consumo, o que nos dá algumas pistas de como se alimentava a população, que louça usava.

Não sendo possível escavar em todo o lado, os trabalhos têm sido realizados na área que é propriedade do Estado Português ou da Fundação Batalha de Aljubarrota «em sítios onde há fortes indícios de revelarem estruturas e materiais arqueológicos do tempo da batalha», no entanto, “nada garante que a 300 metros ou mais não possam aparecer valas comuns ou materiais bélicos», refere a técnica da DGPC, reconhecendo que nessa situação hipotética, havendo autorização do proprietário do terreno, teria todo o gosto e interesse em escavar aí também.

Para Maria Antónia Amaral «é fundamental que sítios históricos como estes estejam devidamente classificados e protegidos, o que obriga a um acompanhamento muito maior por parte da tutela ou de quem os esteja a gerir», no entanto, no seu entender, as populações locais têm aqui um papel fundamental porque são, ou devem ser, as primeiras interessadas em conhecer e proteger a sua própria história e no caso de São Jorge o que tem notado é um interesse crescente da população nesse sentido. «Há pessoas que nos vão mostrar coisas que encontraram nos seus terrenos e que nos perguntam se têm valor e isso é muito importante porque se nota que já há alguma sensibilidade para estas questões, e que começam a perceber que coisas a que não davam importância, por desconhecimento, afinal podem ser importantes para a história da aldeia e da própria batalha de Aljubarrota», conclui.

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