Um passo para a frente e cinco para trás

27 Janeiro 2025

Em 1488, o navegador Bartolomeu Dias transpôs o Cabo das Tormentas, segundo o próprio, ou o cabo da Boa Esperança, segundo o Rei D. João II de Portugal. Todos sabemos isso hoje, a menos que não se estivesse atento nas aulas de história ou houver preguiça de fazer uma simples pesquisa na internet. Hoje, muitos séculos depois, sabemos, mas pergunto-me quanto tempo demorou esta notícia a chegar aos camponeses contemporâneos de Bartolomeu Dias, no norte de Portugal? Souberam uma semana depois? Um mês? Um ano? Chegaram a saber?

Não é muito difícil imaginar que tal notícia dificilmente chegasse até eles, uma vez que os meios de comunicação nessa altura não seriam os melhores. A informação era transmitida quase exclusivamente de uma forma verbal, num verdadeiro passa a palavra. Não será pois de estranhar que no cais do Tejo se soubesse que, ao transpor o Cabo, o navegador tivera dificuldades em vencer as correntes marítimas, mas quando chegasse a notícia a Coimbra a dificuldade fora vencer umas sereias com cornos até às barbatanas, e quando chegasse ao Porto se dissesse que a dificuldade fora vencer um dragão que “mijava” ouro e que só vestia casacos de penas de andorinha azul. Na verdade, para a maioria das pessoas nessa altura, compreender o que raio seria um cabo era já tarefa difícil.

Não havia, nesses tempos, forma de passar a informação de forma rápida e fidedigna. Felizmente isso mudou. A informação passou a ser universal e acessível, graças a várias invenções que não vou especificar porque isto não é uma lição de história! 

Seria impossível voltar atrás: com todos os meios de comunicação de que dispomos hoje em dia, não seria possível voltar a haver uma população de um país inteiro, ou até mesmo de todo o mundo, às escuras, sem informação, sem conhecimento, à nora. 

Ou será que se consegue regredir? E se em vez de nenhuma notícia, houvesse muitas, todas a contradizerem-se mutuamente? E se, qual Pedro e o lobo, se mentisse em tantas notícias, que já não se consegue acreditar em nenhuma? E se se conseguisse, através de algoritmos viciados, direcionar uma versão de um acontecimento de acordo com as convicções de quem as recebe? E se os factos deixassem de importar e tivéssemos ao dispor textos que se apresentam como verdadeiros, mas não são? Que parvoíce. As pessoas são inteligentes o suficiente para não permitir que isso aconteça.