Há uma história muito engraçada que serve para alegar que discutir com um burro não serve para nada. Diz assim:
“A zebra e o burro estavam numa acesa discussão no meio da savana. A algazarra era tal, que os restantes animais decidiram chamar o rei leão para que este resolvesse o assunto. Perante a inquirição do rei, a zebra explicou que estava a dizer ao burro que a erva era verde e o burro, por sua vez, insistia que a erva era, obviamente, azul. A discussão recomeça e quase chega a haver pancadaria. O rei ordena que parem e diz:
– Burro, tens toda a razão! A erva é de facto azul! Zebra, condeno-te a 1 mês de trabalhos forçados!
O burro, com um sorriso de orelha a orelha, vai-se embora feliz e contente. Mas a zebra, indignada com a condenação, pergunta ao leão:
– Mas porquê? O meu rei sabe perfeitamente que a erva é verde! Porque me condenou a mim e não ao burro, que estava completamente errado?
– Sabes zebra – disse o rei – achar que a erva é azul não traz nada de mal, mas perderes a tua paciência e o teu tempo a discutir com um burro merece castigo.”
Podemos concordar com a decisão do rei, porque de facto há burros que não vão mudar, certo? Conheço alguns. São capazes de não ver o que está mesmo à sua frente porque não abona a favor das suas convicções. Burros para quem a realidade é menor que a ficção. Burros que dizem que o chocolate que está a comer é bem docinho, apesar de lhe terem dado uma tablete de merda. É deixá-los comer, certo?
Pois e se o burro, com a sua opinião reforçada com a concordância do rei, faz disso notícia? E se esse burro começa a espalhar a notícia de que até o rei sabe que a erva é azul? Depois, haverá outros um pouco menos burros, que mesmo achando que a erva seria verde, afinal era azul, porque até o rei o dizia. Esse grupo de menos burros que aceita o azul da erva começa a fazer número, e com isso outros burros ainda menos burros dizem: “bem, se há tanta gente a dizer que a erva é azul, deve ter um fundo de verdade, não é?” E passam também eles a dizer que “a erva parece verde, mas não me choca que possa ser azul”. Por esta altura, já metade da população está convencida de que a erva é azul, e um terço acha que, pelo sim pelo não, mais vale ter as duas hipóteses em aberto.
Por isto pergunto: deve-se discutir com o burro ou não?