No artigo desta edição falo-lhe de um assunto que me dá particular interesse e gozo escrever por ser da área que me tenho dedicado em contextos académicos e profissionais, já lá vai mais de uma década.
A cozinha, a gastronomia, a alimentação… São conceitos que se interligam entre si e deveriam de merecer particular destaque e atenção pelos governantes nacionais, mas acima de tudo regionais e locais do nosso país. Só no XXIII Governo Constitucional, último antes do atual, surgiu uma pasta denominada de Agricultura e Alimentação, mas que pouco ou nenhum impacto teve e nada foi feito, talvez, pelas qualidades ou defeitos de quem a tutelava. O atual governo parece que deixou cair a Alimentação e juntou as Pescas à Agricultura. Será que nem sequer uma secretaria de estado mereceria? Já muitos colegas o vão referindo, e partilho tal e qual da mesma opinião. É urgente esta preocupação em defendermos a gastronomia portuguesa. E se da parte do poder nacional não existir uma atenção especial em torno desta temática, com alguém responsável que saiba efetivamente tratar deste assunto com a devida responsabilidade, o barco teimará em andar sempre à deriva.
O tempo passa e nada é feito. Precisamos de um observatório nacional nesta área, que já há tanto tempo que é proclamado por tantas autarquias e comunidades intermunicipais, mas que acaba sempre por nunca sair da gaveta. Porto de Mós deveria começar a pensar num projeto desta envergadura, não só pela projeção ainda maior que virá a ter, mas também pelo facto de ser um projeto que associa as vertentes da educação, da inclusão social, do associativismo, da investigação e o principal de tudo, o envolvimento com a comunidade. Há que ter uma visão alargada sobre este assunto e ter a perceção do potencial que a gastronomia traz para um concelho e para o país. Há que sair da bolha a que alguns governantes estão habitualmente fechados. Mas não me venham com designações estrangeiras, como o Culinary Center ou o Food Lab. Estamos em Portugal, por isso respeitem a nossa língua. Chamem-lhe nomes portugueses. A língua portuguesa tem tanto de bom, quanto a nossa gastronomia. Por isso, são inúmeras as possibilidades para chamar a projetos que envolvam a cultura gastronómica do nosso país.
Porém, as prioridades por parte dos nossos governantes são sempre outras e as nossas ambições em querer levar projetos desta categoria avante acabam sempre por não se concretizarem. É preciso um maior investimento em projetos culturais e turísticos. Porto de Mós tem andado de mãos dadas com estes dois setores, mas esta relação ainda tem de ser mais fortalecida e a gastronomia não pode ficar esquecida.
Comer é uma das coisas que mais fazemos no nosso dia-a-dia. É à mesa que o convívio e a partilha se unem. Por isso, e para terminar, deixo aqui este apelo: Ouçam-nos para se fazerem projetos bem feitos em torno da gastronomia e da alimentação, porque todos juntos é que sabemos tudo.