Recentemente tive conhecimento do livro romanceado O Tintureiro Francês. Comprei e li. É da editora Saída de Emergência e o seu autor é um membro da família Larcher. Também me apareceu o nome de Joaquim Larcher, como testamentário de Almeida Garret, num romance deste escritor.
Tito das Neves Larcher será um nome que pouco dirá aos portomosenses, contudo ele foi um dos combatentes portomosenses na Grande Guerra e, como tal, figura no Memorial respetivo. Nas pesquisas, que então fiz, estranhei quando me apareceu este nome uma vez que eu não conhecia o apelido entre nós, nem sequer a nível nacional. Pedi então a colaboração, sempre pronta, prestável, interessada e conhecedora, do meu amigo e professor Vítor Louro, nos arquivos civis e cheguei à seguinte conclusão:
Joaquim Larcher (N 09/11/1797) amigo de Garret, era irmão do bisavô António (N 14/04/1793) do combatente. Bacharel em leis, nasceu em Portalegre, funda com Garret o jornal O Português (1826). Era maçon e exilou-se em Paris em 1828. Regressado a Portugal, foi deputado por duas vezes, Perfeito do Alentejo, Governador Civil de Lisboa, par do reino de 1852 a 1865. Projetou a reforma administrativa, foi diretor da Biblioteca Pública. Exonerado por ser anti-setembrista, volta depois à ribalta política com Costa Cabral. Dirige as Alfândegas e colabora com Fontes Pereira de Melo na criação do Ministério das Obras Públicas.
Tito Benevenuto Lima de Sousa Larcher nasceu em Braga (N 19/11/1860). Sobrinho-neto do anterior, e pai do combatente, era filho de Francisco Larcher (N 19/12/1824). Foi escrivão tabelião em Leiria em 1885, acumulando na década de 1990 com o cargo de escrivão de direito na Comarca de Porto de Mós onde nasceu o seu filho, também Tito, a 11/07/1895 que viria a ser o combatente na G.G. de que venho falando. Benevenuto Larcher viria ainda a ser administrador do concelho da Batalha até abril de 1914, arquivista da Biblioteca Erudita do Arquivo Distrital de Leiria do qual foi fundador (1916).
Há ainda um membro da família Larcher que criou raízes em Turquel, pelo facto de estar ligado à fabricação das chitas de Alcobaça.
Quanto aos descendentes do combatente portomosense deixo, aos académicos locais, o desafio para continuarem as pesquisas. Nomeadamente na eventual possibilidade de haver aqui alguma ligação à indústria têxtil na Mira de Aire.
Origem dos Larcher em Portugal:
Por volta de 1775, o Governo do Marquês de Pombal tentava libertar-se do espartilho inglês no tratado de Methuen que impunha um freio à nossa indústria de panos. Esse espartilho era ainda reforçado pelos interesses locais ligados ao contrabando das lãs e pela habitual tacanhez da alma do capital lusitano no seu desamor pela modernidade. Também agia nesse sentido a oposição do clero, melindrado pela extinção da Companhia de Jesus cujo convento e igreja, em Portalegre, estavam a ser ocupados com uma fábrica de panos. Esta tinha algumas dificuldades relacionadas com tecnologia e fornecimento de matérias primas. O Marquês foi aconselhado a contratar o especialista francês, Stéphane Larcher, que era solteiro, fora protegido de madame Pompadour, de Voltaire e desejoso de deixar França que o perseguia. A missão deste era revigorar a indústria de panos de Portalegre. O especialista viu nessa possibilidade a oportunidade de sair de França e passar aqui dois ou três anos em trânsito para o exílio na América. Veio para Portalegre e trouxe o sobrinho Joseph que cá deixou descendência. Julle Ratton ajudou-os nos primeiros contactos com os produtores de matérias primas e entidades locais.