Era inevitável que abordasse na minha primeira contribuição para O Portomosense, a atual situação política e os desafios económicos que iremos enfrentar nos próximos anos.
António Costa revalidou o seu mandato, alcançando uma maioria absoluta improvável, que confere carta branca ao PS para implementar as suas medidas sem oposição.
Certo é que o PS governou o país em 23 dos últimos 28 anos, geriu a entrada na moeda única e surfou a onda dos fundos comunitários. Os resultados não são animadores e Portugal arrasta-se na cauda da Europa nos índices de competitividade.
Pegando no contexto económico internacional a situação adensa-se. A inflação é o aumento generalizado de preços de bens e serviços e representa o aumento do custo de vida e a consequente redução no poder de compra. Há vários fatores que podem influenciar a sua subida: maior procura, maiores custos de produção e também o aumento da emissão de moeda.
Desde a crise de 2009, a Reserva Federal dos EUA e o Banco Central Europeu (BCE) têm percorrido uma odisseia expansionista. Nunca existiu tanta moeda em circulação como agora e nunca foi tão barato obter empréstimos e gastar dinheiro. Temos taxas de juro historicamente baixas que facilitam o acesso a crédito e incentivam o consumo, mas ao mesmo tempo desincentivam a poupança.
Existe uma relação inversa entre inflação e taxas de juro. Quanto mais altas as taxas, menor será a inflação e vice-versa. Isto significa que num cenário de subida de inflação a resposta dos bancos centrais é a subida das taxas de juro. A Reserva Federal já anunciou o aumento das taxas de referência e o BCE prepara-se para fazer o mesmo. O impacto deste aumento será sentido com maior intensidade nos países com elevada dívida pública. De acordo com o Banco de Portugal, a dívida portuguesa representava 127,5% do PIB em 2021. Já é mais caro vender dívida portuguesa e “sopram ventos” de subida nas taxas Euribor, referências nos empréstimos às famílias e empresas.
Temos assim uma conjugação de fatores que pode representar a tempestade perfeita: «Maioria absoluta PS; inflação galopante; subida das taxas de juro; dívida pública elevada; défice orçamental elevado; aumento da carga fiscal; aumento da despesa do Estado; bolha imobiliária; perda do poder de compra; instabilidade internacional», como li numa rede social e motivou a escrita deste artigo.
Em suma, temos um Governo com maioria absoluta que prescindiu nos últimos anos de fazer as reformas estruturais que o país necessita. Temos um cenário internacional que traz nuvens negras, com vento a aumentar de intensidade semana após semana. Somando a tudo isto o impacto da pandemia na vida das pessoas e temos todos os ingredientes para uma tempestade perfeita.
E como bem sabemos, em tempestade não há chapéu de chuva que nos safe, mesmo que seja resiliente e pago com fundos comunitários.