Andava eu a alinhavar ideias sobre o tema da desinformação e de repente cai-me na caixa do correio a newsletter do Público, Prova dos Factos, onde o Ivo Lucas exemplifica na perfeição este processo.
A história começa com uma publicação falsa em que uma vereadora da Câmara Municipal de Lisboa aparece a dar declarações polémicas ao jornal Público, nomeadamente: «Os portugueses virem a ser minoria no futuro é bom, vão finalmente entender o que nós pessoas racializadas sentimos». Ora, todo o conteúdo é falso, desde a entrevista que não existiu a uma imagem que é adulterada, usando o layout do jornal para dar credibilidade à publicação, que entretanto foi apagada.
Como é que o tweet se tornou popular nas redes sociais? No final do artigo tem um QR code que dá acesso a uma infografia de Jorge Gomes, da Vost Portugal, onde é possível visualizar como a informação se propagou. Essencialmente a amplificação começou com a partilha massiva de duas contas do Twitter: uma de um militante do Chega, que se identifica como “Facho digital para os guerreiros do teclado”, e de outra conta que publica vídeos sobre casos de justiça com um perfil racista e xenófobo.
Como “contrafogo”, foram feitas publicações no Twitter pelo Público, pela jornalista identificada como autora da falsa notícia e pelo jornal Polígrafo, uma plataforma que informa sobre a veracidade de conteúdos virais. No seu conjunto, os três desmentidos conseguiram chegar a muito mais utilizadores do Twitter do que o falso conteúdo, no entanto, também foi possível perceber que o universo de utilizadores que viram o conteúdo falso não se cruzou com os utilizadores que viram o desmentido.
E o que podemos concluir deste exemplo? Combater a desinformação não é fácil, por causa das caixas de ressonância de que já falei. Ou seja, é difícil penetrar em ambientes em que reina a desinformação porque, nas redes sociais, tendemos a seguir contas de perfil idêntico e com interesses semelhantes aos nossos.
Ainda assim, podemos e devemos ter um papel ativo no seu combate. A ação ajuda a combater a desinformação e cada um de nós pode e deve ter um papel ativo. E o nosso contributo é muito importante a dois níveis: quer partilhando as verificações e desmentidos de conteúdos falsos, quer tendo muita atenção no tipo de partilhas que fazemos.
Antes de partilharmos o que quer que seja, especialmente temas mais polarizadores, devemos garantir que sabemos a fonte da informação, por exemplo: indo à secção “sobre nós”, lendo mais do que o título, procurando mais informação sobre o autor do conteúdo, verificando a data ou procurando a informação noutra fonte.