Parabéns pelos seus 65 anos; a partir de hoje tem desconto em todos os bilhetes: museus, Rodoviária Nacional e tantos outros. Sénior, Bilhete Sénior. Caí das nuvens; era oficialmente sénior ou seja – idosa. Será que já aparento a idade que tenho? Fui testar. Havia uma fila enorme com gente de várias idades. Pensei com os meus botões: “Há variedade. Novos e velhos, homens e mulheres e sem género. Coloquei batom e penteei as pestanas. Chegou a minha vez: “Um bilhete sénior para mim”. Num segundo pensei: “Vai pedir-me o cartão de cidadão”. O funcionário nem pestanejou e lá saí com um bilhete muito mais barato, mas caro para o meu ego. Já testei várias vezes, em sítios diferentes, e saio de bilhete na mão, sem qualquer hesitação do funcionário, quer seja homem quer mulher, e um peso na alma. Decidi que estava no hora de gozar o melhor possível os anos restantes, entre a reforma e a dependência de alguém ou de algo. Em primeiro lugar tratar de mim: cabelos, unhas, pestanas e pés. Uma canseira. Mas no fim sabe bem. Já nada faz mal nesta idade, portanto comer de tudo um pouco sem exageros. Beber também, moderadamente. Claro. Dançar, andar, e, sobretudo, estar com tempo para a família e amigos. Agenda cheia.
Estou a gostar. Há todavia problemas que devemos enfrentar, acolher e resolver de uma forma inovadora.
Envelhecer em família e com a família torna-se actualmente um indicador de qualidade de vida, correspondendo a uma evolução natural e coesa do ciclo de vida, mantendo e/ou reforçando os laços de solidariedade e ajuda intrafamiliar. Não querendo contribuir para a polémica actual sobre a Família, aceito que em termos sociológicos tem-se mantido, como traço comum de caracterização, o entendimento da “Família” como meio primário de socialização (Grupo de Reflexão) deixando a caracterização das famílias para outros debates.
Mas há um sobressalto na sociedade: “Muitas pessoas com mais de 65 anos vivem sós. Em números absolutos ultrapassam os 240.000, o que corresponde a cerca de 2,5% do total da população”. Como conciliar a vida activa da família com o envelhecimento em família? Que políticas necessitamos para acudir a tanta solidão?
Do Japão, um dos países com mais idosos, vem uma resposta inovadora: dois Ministérios que colaboram entre si – O Ministério da Solidão e o Ministério do Bem-Estar.
É um novo paradigma, é outra forma de entender uma vida plena independentemente da idade. Sentir-se acompanhado, com acessibilidade garantida a museus, espetáculos e hospitais obter-se-á , sem qualquer dúvida, bem-estar e segurança no seu dia a dia. Ainda estamos longe deste patamar, mas não podemos deixar de ter esperança. Há 50 anos era bem pior. Basta consultar arquivos e observar fotografias antigas.
Por enquanto, ter tempo para pesquisar velhos mundos com abordagens novas é absolutamente fantástico.
Entretanto, sempre que vejo alguém aparentando a minha idade penso: “será que lhe pedem o Cartão de Cidadão, quando compra bilhete sénior? Que grande problema existencial!
Trivialidades!”.