Cátia Beato

Carne na Grelha nunca debaixo de Telha

26 Set 2024

Caros leitores, estamos a atravessar momentos difíceis. Os incêndios levaram milhares de hectares verdes em todo o país, as pessoas afinal sabiam que o submarino que visitou o Titanic iria explodir e, eu entrei no meu último ano da década dos 20. Eu sei, triste. Porém, não estou aqui para falar de unhas encravadas. Em vez disso, vou voltar a colocar a minha mãe numa das minhas histórias e oferecer-vos os ensinamentos de como não se deve grelhar carne. Achei este o momento indicado para contar.

Se existe coisa que fica encarregue ao meu pai cozinhar – porque a minha mãe não se safa e nem a Bimby tem instruções de como fazer –, é carne e peixe grelhados na churrasqueira a carvão. Sempre que o meu pai faz isso, ele costuma estar na rua, ou na casa do forno a lenha dos meus avós.

Era um dia nublado, com alguma daquela típica chuva miúda a cair, e ele estava fora de casa. Já eram quase horas de almoço e a minha mãe precisava de grelhar carne. Apesar de termos em nossa casa grelhadores elétricos, que são mais fáceis e rápidos de usar, ela decidiu meter em prática as lições do meu pai daquele verão, sobre como usar a churrasqueira e preparar as brasas. Sem muita curiosidade, eu e a minha irmã ficámos em casa. Isso impossibilita-me relatar por palavras todo o processo de montagem do equipamento e, sendo assim, saltemos 40 minutos no tempo. “Vou ver a minha mãe”.

Ao sair de casa, reparo na nuvem de fumo que saía da pequena chaminé. Estava tudo calmo, parecia estar a correr bem. Aproximo-me da porta e percebo que o fumo não está apenas na chaminé, mas em todo o lado. No meio do cinzento, apenas consigo ver um abanador de palha a agitar o ar para cima das brasas, que continuavam da mesma cor com que saíram do saco. Aviso a minha mãe para irmos embora que ainda caía para o lado, mas ela não quis e ainda me fez ficar. Naquele momento eu questionei todas as minhas escolhas de vida. Jurei nunca mais beber e, não voltar a retirar os salgados da padaria do Continente com a mão.

Precisávamos apenas de grelhar quatro entremeadas e podíamos ir embora. Porém, não foi a carne que se grelhou. Com o passar do tempo, os nossos rostos moldaram-se numa mistura de lágrimas e ranho. Expirava como se tivesse a fumar 20 cigarros ao mesmo tempo. A minha irmã ainda apareceu, mas foi chutada a pontapé porque se alguém tem de falecer por um ato heroico, essa pessoa sou eu. “Aqui jaz Cátia, irmã, falecida por grelhar carne”. Mas eu e a minha mãe esperámos, desejámos e conseguimos. Vitória! Habemus Carne!

Ao almoço, o meu pai começou a rir-se e perguntou onde tínhamos o grelhador. Eu acho que estava no meio. “Ele precisa de estar debaixo da chaminé, para o ar circular para cima”. Caiu-me tudo! Ora, estás a dizer que estive mais de trinta minutos a sentir-me como    um comboio a vapor, quando era apenas preciso chegar-nos dois metros para a direita? Mãe, a partir de agora apenas usas os tachos. Deixas as brasas para o pai. Só voltas a tocar nisto quando souberes fazer fogo com palitos.