Nos últimos dias foi divulgado o “Atlas da Emigração Portuguesa”, um estudo do Observatório da Emigração. Existem atualmente mais de 2.3 milhões de emigrantes portugueses espalhados pelo mundo. A diáspora portuguesa é a maior da Europa e a oitava maior do mundo. Portugal é, historicamente, um país de emigrantes. A emigração portuguesa foi uma constante no início do século XX, sobretudo para a América (Brasil, EUA e Canadá) e África até aos anos 60 e para a Europa a partir daí.
O início do século XXI foi de retoma no ciclo de emigração, com altos e baixos que acompanham os ciclos de desemprego em Portugal e as crises financeiras no país e no mundo. O problema adensa-se ao analisarmos o perfil das saídas mais recentes: “mais de um terço dos nascidos em Portugal com idades entre os 15 e os 39 anos vive hoje no exterior” , menciona o estudo.
Mais de um terço dos jovens em idade ativa estão no estrangeiro à procura de condições de vida que não encontram em Portugal. É um problema atual, pela falta de população ativa, mas também no futuro: um terço das mulheres em idade fértil vive também fora do país e os nascimentos no estrangeiro de filhos de mãe portuguesa correspondem a 20% do total em Portugal.
Parece-me claro que Portugal evidencia dificuldade em manter-se atrativo para os jovens, que procuram países com maior potencial de desenvolvimento das suas expectativas e da sua vida. Tendencialmente tratam-se de economias fortes e/ou em crescimento, como as que mencionei atrás.
Não tenhamos ilusões:
Sem colocarmos Portugal a crescer, potenciando negócios e desenvolvendo a sua economia, não vai ser possível reter as novas gerações! Precisamos de um país que permita aos jovens criar os seus projetos de vida e lhes dê perspectivas de futuro.
Nas últimas semanas foi viral um vídeo, onde uma senhora menciona, em entrevista, que o país precisava de mudança, mas que já não era para ela porque está reformada e que vai votar nos mesmos, pois os jovens é que têm o ónus de mudar.
Cruzando esta declaração com as estatísticas eleitorais acabamos por ter um retrato do país. Uma população envelhecida, parte já reformada, que está satisfeita com o estado atual do país, ou que, mesmo não estando satisfeita, prefere manter o que tem, do que mudar o paradigma.
Se tivermos também em conta que são as pessoas nestas faixas etárias que mais votam (menor abstenção) por oposição à abstenção elevada junto dos jovens, temos evidenciado o choque que menciono no título deste artigo de opinião.
Cada ato eleitoral é uma oportunidade para mudar o rumo das coisas. As gerações mais velhas têm que escolher que país querem, não só para elas, mas também para as gerações dos seus filhos e netos (que estão de saída para o estrangeiro). As gerações mais jovens, com maior fogo e vontade de mudar, têm também uma oportunidade de contribuir para a mudança, mas para isso é preciso votar!
Se queremos um país diferente, não podemos continuar a fazer igual.